segunda-feira, julho 07, 2008

KATHERINE MANSFIELD, NEIL POSTMAN, ELISA LUCINDA, SÓCRATES, MAG MAGRELA & DORO

 
A arte da grafiteira Mag Magrela.

AS TRELAS DO DORO: ESCAMBAU - Doro estava na maior pasmaceira, ingicado pela peitica de encontrar uma saída para seus planos eleitorais, quando teve aquele estalo arquimédico: eureka! Ora, ele não se contentara com a produção e reprodução da idéia do Fecamepa e com a sua descabida candidatura levada a ferro e fogo até a última conseqüência no atual pleito eleitoral (pode um sujeito mais sem eira nem beira candidato a presidente do Brasil e com o desplante: quem é pior ou melhor do que eu? É verdade, então fico calado), agora partiu para outras alvoroçadas invencionices só possíveis em sua cabecinha tola de desaprumado jipe sem freios nem meios descendo desgovernado ribanceira abaixo. - Eureka! -, repetia insistentemente. Essa exclamação iluminada reduzia-se à descoberta do paradeiro do filósofo, advogado e fiscal de renda, o eminente anacoreta distinguido doutor Zé Gulu, um, que dizem os boateiros de plantão, Ph.D. das ocultidões, pós-graduado pela Universidade ZWQ%&777P, ao defender uma tese de doutoramento a distância na 28.ª galáxia do 101.º sol - ocasião em que prematuramente já anunciara a barroada do asteróide 2002N17 com a terra, em dia e horário marcados exatamente sem pestanejar, comprovando seu tino sismográfico de captar o menor zumbido noutras galáxias anos-luz daqui -, quando com sua imperturbável contemplação e douta sabedoria peculiar, deu-lhe a solução: o escambau! Doro depois de muito meditar sobre a loucura do teorema proferido, chegou a me confidenciar, o que, não obstante, também fiquei intrigado com uma cara de tacho mais que corno desconfiado de gaia, levando-me a desvendar a charada esfíngica do crástino haríolo e que, segundo insistem os inventores de petas e patranhas, ser o avatar apreciador da ingerência de bosta dos ciganos, fato este que amplia seus poderes adivinhatórios. Se é pinóia, cá prá nós, nem afirmo muito menos desafirmo, deixo correr. Primeiro fui no pai dos burros, nada constando sobre tal locução, só escambar que significa cambiar ou trocar; e escambo, no mesmo sentido. Fiquei zarolho só de pensar: o que queria,afinal, dizer ele com tal dédalo oracular? Nem no Aurélio, nem dicionário algum, nem no tomo I da massaroca inapalpável da Enciclopéda Griz, com suas quase seis mil páginas de pesquisa exaustiva do emérito poeta Artur Griz, nem anotado nos estudos de Luís da Câmara Cascudo, nem no dicionário do Palavrão, de Mário Souto Maior, nem enciclopédias ou alfarrábios do tempo do ronca, nem em porra de livro barato desses feito nas coxas só para vender. Onde pomboca que droga poderia encontrar? Doro com cara de interrogação maior que a minha, resolveu pedir esclarecimentos ao doctíloquo anfibologista. Este respondeu seco: o óbvio! Como? Simples: quem sabe de cor e salteado a gramática portuguesa? Ninguém, exceto um ou outro obstinado estudioso. Quem entende a proposta de inclusão pedagógica dos de Brasília? Ninguém, nem eles mesmos. Quem aprende algo de nossa língua com tanto estrangeirismo, regra, exceções, vaievém, nó cego, tanto nome estrambólico nas coisas simples da gente? Uh! Ninguém. Então? uma palavra só como essa, com uma múltipla significação como possui, torna todo mundo, de uma hora para outra, alfabetizado, promovendo a possibilidade de tornar analfabetos em graduados acadêmicos assim, sem mais nem menos. Como? Por exemplo, você diz: Pai, filho e o escambau! Neste caso, significa o Espírito Santo e tudo e todo mundo, tudo uma merda só. Tanto significa um único enunciado como representar uma frase inteira, dependendo, apenas, da forma de enunciação. Escambau? Escambau. Escambau! Defendia então que com essa economia de expressão, haverá, consequentemente, menos mal entendidos, vez que todos pronunciarão a toda hora, para qualquer ocasião, com todos os significados conteudísticos, apenas: escambau. E enfatizava: você vai poder chamar, mandar, pedir, torar, usando apenas: escambau. Tanto para singularidades, como para coletivos plurais. E tome lero-lero: serve tanto para uma ofensa, quanto para um elogio. Servirá para somar, dividir, subtrair, roubar, multiplicar, ou acumular. Afirma-se, como se nega. Move-se, ou como ficar imobilizado. Terá uma inumerável e diversificável significação bastando apenas interpretar, só. Como? Olhe, por acaso você entende o que dizem os maiorais da nação? Nadica de nada. Você entende economia ou linguajar de advogado ou médico ou engenheiro ou enrolador presepeiro quando ele quer justificar alguma coisa em seu prejuízo? Pior ainda. Você entende, por acaso, o que um juiz chega a lhe dizer quando vai exarar uma sentença em que você não sabe se ganhou ou perdeu o direito adquirido? Ora, num sei se tô sorteado ou se tô fudido prá todo o resto da vida. Aí arremata: pois é, acaba a enrolança com uma única expressão e com um adendo: você revoluciona a gramática acabando com o excesso de normatização, economiza essencialmente na educação, porque todos saberão dizer escambau, não precisando de escola, de diretor, de professor, de nada disso. O povo ficará feliz! Os estudantes, ululantes! Votos certinhos na bica do seu caçoá eleitoral, num é não? Doro meio lá e meio cá, recebeu na lata: não precisará de uma lei com trilhões de artigos, apenas escambau, pronto, ou tá condenado, ou tá absolvido. Ninguém vai precisar queimar as pestanas lendo livros e mais volumes para saber de alguma coisa. Se o problema é leitura, babau. Ninguém precisará mais ler absolutamente nada. Vai ser tudo na base utilitária dos sentidos. Os poetas bastarão dizer escambau, pronto, tudo o que se imaginar estará ali representado. As pessoas serão mais silenciosas, a vida será mais fácil de viver porque não precisará de um sem número de léxicos para informar, persuadir, engalobar, basta um: escambau. Pronto. Acaba de uma vez por todas com a escrita, restando apenas a fonética reduzida a um só termo: escambau. Além do mais, todo mundo será uma família: Zé de tal Escambau, fulano de tal Escambau, beltrano de tal Escambau, outrano de tal e assim vai. Por isso, haverá mais solidariedade, independente de consangüinidade ou afetividade. Tudo igual. Revolucionário, não? Então? Doro abriu um sorriso iluminado enquanto remoía nas catracas: num é que é mesmo! Putzgrila! Estou eleito!!! Foi aí que esfuziantemente beijou as mãos e os pés do mestre. E não se contendo em si de explosiva alegria, vociferou em cima da bucha: - Olhe, dotô Zé Gulu, cum essa indéia o sinhô será meu ministro da inducação quano eu ganhá para prisidente. Pode escrevê aí. Palavra de Doro num trisca, sai em cima da risca! Pois é, e eu, gente, achando-me mais astuto que gato escaldado, continuo com a mesma cara de tacho de surpreso por imbróglio mais sem pé nem cabeça. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. 
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AS TRELAS DOS DORO

PENSAMENTO DO DIAA quem posso chamar de educado? Primeiro, aqueles que enfrentam bem as circunstâncias com que se deparam no dia-a-dia... depois, aqueles que são honrados em suas relações com todos os homens, aguentando com facilidade e bom humor aquilo que é ofensivo para outros, e sendo tão agradável e razoável com seus companheiros quanto é humanamente possível... aqueles que têm prazeres sempre sob controle e não acabam derrubados por suas infelicidades... aqueles a quem o sucesso não estraga, que não fogem do seu próprio eu, mas se mantêm firmes, como homens de sabedoria e sobriedade. Pensamento do filósofo grego Sócrates (470-399aC). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A TELEVISÃO – [...] A televisão destrói a linha divisória entre infância e idade adulta de três maneiras, todas relacionadas com sua acessibilidade indiferenciada: primeiro, porque não requer treinamento para apreender sua forma; segundo porque não faz exigências complexas nem à mente nem ao comportamento; e terceiro porque não segrega seu público. [...] Biologicamente estamos todos equipados para ver e interpretar imagens e para ouvir a linguagem que se torna necessária para contextualizar a maioria dessas imagens. O novo ambiente midiático que está surgindo fornece a todos simultaneamente, a mesma informação. Dadas as condições que acabo de descrever, a mídia eletrônica acha impossível reter quaisquer segredos. Sem segredos, evidentemente, não pode haver uma coisa como infância. [...]. Trechos da obra O desaparecimento da infância (Graphia, 1999), do professor crítico social e teórico da comunicação estadunidense Neil Postman. Veja mais aqui.

FEUILLE D’ALBUM - [...] Mas como poderia fazer para lhe ser apresentado? Isso poderia levar anos... Então descobriu que, uma vez por semana, à tarde, ela saía para fazer compras. Em duas quintas-feiras consecutivas, ela assomou à janela, a usar uma velha capa sobre o avental e carregando uma cesta. De onde ele estava, não conseguia enxergar a porta de sua casa, mas na outra quinta-feira, ele vestiu rapidamente um casaco de chuva e correu pelas escadas. Encantadora luz rósea pairava por sobre todas as coisas. Viu-a cintilar no rio e as pessoas que caminhavam na sua direção, tinham rostos e mãos cor-de-rosa. Ele apoiou-se a uma das quinas do prédio, esperando-a e não tinha ideia do que poderia dizer ou fazer. [...] Já agora ela estava a caminho de casa e tão distante quanto antes... Repentina, ela virou e entrou na leiteira, onde ele a viu, através do vidro, comprando um ovo. [...] Penetrou o portão do edifício, onde ela morava, medindo seus passos pelos dela, para que não o percebesse. Finalmente, ela parou num patamar e sacou da bolsa a chave. Quando já a enfiava na fechadura, ele apressou-se e enfrentou-a. Corando, mais vermelho que nunca, mas a fitá-la, ele disse quase zangado: “Desculpe-me, senhorita, mas deixou cair isto”. E apresentou0lhe um ovo. Trecho do conto da escritora neozelandesa Katherine Mansfield (1888-1923).

COR-RESPONDÊNCIARemeta-me os dedos / em vez de cartas de amor / que nunca escreves / que nunca recebo. / Passeiam em mim estas tardes / que parecem repetir / o amor bem feito / que você tinha mania de fazer comigo. / Não sei amigo / se era o seu jeito / ou de propósito / mas era bom, sempre bom / e assanhava as tardes. / Refaça o verso / que mantinha sempre tesa / a minha rima / firme / confirme / o ardor dessas jorradas / de versos que nos bolinaram os dois / a dois. / Pense em mim / e me visite no correio / de pombos onde a gente se confunde / Repito: / Se meta na minha vida / outra vez meta / Remeta. Poema da atriz, jornalista, poeta e cantora Elisa Lucinda. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui.

 A arte da grafiteira Mag Magrela.


 

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