quinta-feira, março 07, 2013

DAVID MALOUF, BESSIE PARKES, TAKEUCHI, AUBRAC, TERESHKOVA & PALMARES


PALMARES

Luiz Alberto Machado


Uma cidade esta

A morada abissal nos quilombos da noite Zumbi
Ou uivo de coruja de todos os presságios
Alalaôs de todas as festas
Orações de todos os templos
Correio de todas as notícias
Arena de todas as lutas vencidas, perdidas, mal-choradas,
Terreno surpreso de todas ignóbeis sentenças de vida
Que se descoram e se colorem a cada anátema dos deuses
Eu guardo em meu cofre
Todos os teus impérios de fome e luxúria
Tua desprezível ingratidão
Contemplada nos tapetes de pelúcia que te completam
E te arruínam rodeada de penúria
Festejando andores que fabricam as incontestáveis beatitudes
Aureoladas nas noites insones
Que te deixam morrer e ressurge em cada copo mal-tomado
Como sudário de tua manifestação
Uma cidade esta
Dos deuses do barro suspensos nos tronos inflamáveis
De lazarentos apodrecidos nos porões de tua riqueza roubada
Que cantam cantigas do tempo do ronca sob um sol escasso e débil
Dos arcabuzes, mosquetões e pistolas ressoando seus estrépitos como saudando a vida disfarçada, o plantão do inverno nos ventres tristalegres e boquifamintos que inventariam teu espolio do mais completo bestiário canhestra de todas as vidas
O teu gen ressecou antes mesmo de caminhar pelas orlas estelares em formas do teu organismo carcomido e prostituído das seqüelas da vida que não mais retalham teus dramas porque são doces quimeras impetradas ao sigilo do teu crepúsculo
Porque são tirânicas as ousadias engastadas ao sibilo de tuas chuvas desmoronando sangue – a comiseração por todas bestificadas ruindades indiferentes que te redundam na mais completa insolência de justiça.
Uma cidade esta
Teus porões jamais revolvidos teriam muito mais que sujar toda tua cara e apodrecer-te nas mais inexoráveis das balanças, mas mesmo assim te guardo em meu seio como quem guarda a amante após a chuva dos desejos e te desejo como quem vai dormir ao relento dos cobertores e te venero como a um súdito esconjurado, pois não te jogaria uma pedra porque não as tenho no coração. Mas te daria meu aconchego porá poder sonhares teus erros e remediá-los com as meizinhas e ungüentos que guardo ao bolso e te sentiria, não como um carrasco, mas como um filho sem seio na anciã de amamentar. 
Sou todos os teus brejos e imundícies
Sou eu que sofro com a tua agonia sabendo que ela não é minha, mas a te me dou e guardo em meus cofres o teu segredo.
Guardo tuas praças, ruas, becos e memórias.
Guardo santificadamente todos os teus desvarios e todas as tuas relíquias de bondade. E com amor todas as noites deito-me em teu corpo e ouço a voz de tua indignidade me falar sob as olheiras, o bafo da cachaça, o fumo, a tua ressaca, o teu pouco sol, a tua grande noite.
Eu tenho o teu desespero na carne e o teu desassossego no sono que me foge noite a noite na tua madrugada insidiosa, no teu crepúsculo suicida.
Eu tenho em mim todos os teus dotes, inventario teu espolio como um deserdado, mas sempre guardando a tua marca em meu peito e te tenho e sou pouco.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Canção de Terra. Recife: Bagaço, 1986. Veja mais aqui.

PALMARES – PE
Palmares está encravada na microrregião homogênea 112 – Mata Úmida – e da zona fisiográfica do Litoral – Mata do Estado de Pernambuco. Sua denominação tem origem na quantidade de palmeiras na localidade, bem como associada ao Quilombo dos Palmares. Inicialmente era o aldeamento Trombetas, depois Povoado dos Montes, Una, e, finalmente, Palmares. Com a Lei Provincial 844, de maio de 1868, foi desmembrada das freguesias de Bonito e Água Preta. Foi elevada à categoria de vila pela lei 1093, de 24 de maio de 1873, pelo Governo Provincial. Com a edição da Lei Provincial 1468, de 9 de janeiro de 1879, obteve foro de cidade. O Município foi instituído com a constituição dos municípios autônomos do Estado, com o advento da República, em 3 de agosto de 1892.
Terra dos Poetas. É assim que Palmares ficou conhecida por ter sido berço de grandes poetas. Também o município possui o primeiro teatro a funcionar no interior de Pernambuco e o terceiro mais antigo do Estado, além de abrigar a primeira loja maçônica de Pernambuco. Veja mais aqui e aqui.

HINO
(Nehemias Galdino de Araújo/Edson Carlos Rodrigues/Milton Barbosa Souto)

Palmares é canção da natureza

exortou certa vez Silva Jardim
é terra de cultura e de grandeza
no mundo não havendo igual assim...


POETAS DOS PALMARES
O poeta e escirtor Juhareiz Correya organizou em duas edições a antologia POETAS DOS PALMARES, reunindo:
Adalberto Marroquim, Aloísio Fraga, Antonio Veloso, Amaro Matias, Artur Griz, Ascenso Ferreira, Calazans Alves d´Araujo, Eliseu Pereira de Melo, Euripedes Afonso Ferreira, Ezequiel Pessoa de Siqueira, Fabio Silva, Fenelon Barreto, Fernando Griz, Jayme Griz, João Costa, José Lagreca, José Ramos, Julia Leite, Lelé Correia, Leopoldo Lins, Mario Marroquim, Manuel Bemtevi, Milton Souto, Olimpio José de Freitas, Raimundo Alves de Souza, Rubem de Lima Machado, Stella Griz, Zenobio Melo, Afonso Paulins, Alfredo Moraes, Américo Furtunato, Ângelo Meyer, Elita Afonso Ferreira, Eniel Sabino de Oliveira, Fred Caminha, Jesimiel Gonçalves, JoãoLins, Juhareiz Correya, Leonilda Silva, Luiz Alberto Machado, Paulo Menezes, Roberto Quental, Sandra Lustosa, Telles Junior e Wilmar Antonio Carvalho. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.  

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
CORREYA, Juhareiz (Org.). Poetas de Palmares. Palmares: Palmares, 1973.
_____. Poetas dos Palmares. Recife/Palmares: FUNDARPE/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.
LEÃO, Brivaldo. Memórias da noite e do dia. Recife/Palmares: Bagaço, 1987.
MACHADO, Luiz Alberto. Canção de terra. Recife: Bagaço, 1986.
_____. Primeira reunião. Recife: Bagaço, 1992.
_____. A atividade artística como função alternativa para o progresso do município. Revista A Região, ano I, nº 5 (24), 1984.
MACHADO, Luiz Alberto; SILVÉRIO, Rolandry. Aventureiros do uma. Revista em quadrinhos. Recife/Palmares: Bagaço, 1986.
MENEZES, Paulo. Sindicalismo X repressão: a história de Zé Eduardo, o líder do maior sindicato de camponeses do Brasil. Recife: Nordestal, 1983,
PALMARES. Município dos Palmares. Recife: Governo do Estado/Pernambucana de Artes Gráficas, 1963.
_______. Palmares. Recife: Governo do Estado/FUNDARPE/FIAM, 1981.

Veja mais: Crônicas Palmarenses.

 


DITOS & DESDITOS - Na Terra, os homens e as mulheres correm os mesmos riscos. Por que não deveríamos fazer o mesmo no espaço? Eu acredito que uma mulher deve sempre permanecer uma mulher e nada feminino deve ser alienígena para ela. Ao mesmo tempo, sinto fortemente que nenhum trabalho feito por uma mulher no campo da ciência ou da cultura ou o que for, por mais vigorosa ou exigente, pode entrar em conflito com sua antiga "missão maravilhosa" - amar, para ser amado - - E com ela desejo pela felicidade da maternidade. Pensamento da aviadora e astronauta russa Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ter ido ao espaço na Vostok 6, transformada em heroína nacional após o sucesso da sua missão.

 

ALGUÉM FALOU: Todos nós, cada um de nós, carregam uma estrela dentro de nossos baús. ... luz e escuridão estão sempre lado a lado. Se você mostra até mesmo o menor medo ou lágrimas para a escuridão, irá inchar imediatamente e virá atacando e engolir a luz. Serenidade, a fim de derrotar a escuridão e as almas escuras, você deve manter a estrela dentro do seu peito queimando brilhantemente em todos os momentos. Essa é a sua taxa mais importante. As pessoas do mundo, todas elas, se é a raça diferente ou a língua diferente ou o estilo de vida diferente , tende a pensar apenas sobre o que não podemos compartilhar. Mas nossos cérebros são todos iguais. Nós somos as mesmas pessoas. Com a força de todos, todos nós podemos compartilhar os mesmos sentimentos. Isso é óbvio. Mas não virá facilmente. Pensamento da artista mangaká japonesa Naoko Takeuchi.

 

DESPISTANDO A GESTAPO - [...] Esperamos por uma hora quando vemos um esquadrão de soldados alemães alinhados no leito da estrada ao lado do trem. Em seguida vem uma coluna de pessoas em trajes civis. Certamente são judeus. Todos bastante bem vestidos, com as malas nas mãos como se partissem tranquilamente de férias. Eles sobem a bordo do trem enquanto um sargento-mor os mantém em movimento, “Schnell, schnell”. Há homens e mulheres de todas as idades, até crianças. Entre eles, vejo uma de minhas ex-alunas, Jeanine Crémieux. Ela se casou em 1941 e teve um bebê na primavera passada. Ela está segurando o bebê no braço esquerdo e uma mala na mão direita. O primeiro degrau é muito alto, acima do leito rochoso da estrada. Ela põe a mala no degrau e segura com uma das mãos o batente da porta, mas não consegue se erguer. O sargento-mor vem correndo, grita e chuta o traseiro dela. Perdendo o equilíbrio, ela grita quando seu bebê cai no chão, um patético monte de choro branco. Eu nunca vou saber se foi ferido, porque meus amigos me puxaram para trás e agarraram minha mão quando eu estava prestes a atirar. [...]. Trecho extraído da obra Outwitting the Gestapo (University of Nebraska, 1993), da educadora e ativista francesa Lucie Aubrac (1912-2007).

 

UMA VIDA IMAGINÁRIA - [...] O que mais nossas vidas deveriam ser senão uma série contínua de começos, de dolorosas colocações rumo ao desconhecido, empurrando-nos das bordas da consciência para o mistério do que ainda não nos tornamos. [...]. Trecho extraído da obra An Imaginary Life (Vintage, 1996), do escritor e dramaturgo australiano David Malouf, autor da frase: Palavras com as quais sua alma dançava.

 

TRÊS POEMAS - PAZ - O curso constante das estrelas, \ As ondas que ondulam até a praia, \ As árvores vigorosas que ano após ano \ Se espalham mais e mais;\ A joia se formando na mina, \ A neve que cai tão suave e leve, \ O nascer e o pôr do sol, \ As crescentes trevas da noite;\ Todas as coisas naturais vivem e se movem \ Na paz natural que lhes é própria; \ Apenas em nossa vida desordenada \ Quase ela é desconhecida. \ Ela não é descanso, nem sono, nem morte; \ Ordem e movimento sempre permanecem \ Para cumprir suas ordens firmes \ Como guardas à sua mão direita.\ E algo de sua força viva \ molda os lábios quando os cristãos dizem \ Àquele cuja força sustenta o mundo: \ "Dá-nos a tua paz, rogamos!" MÚSICA - Doce melodia irrompe entre as esferas em movimento, \ um som solene e arrebatador, \ Uma harmonia da qual as colinas verdes da terra \ Emitem apenas o mais fraco eco; ainda há \ uma música em todos os lugares, e doce concerto! \ Todos os pássaros que cantam no meio da floresta profunda \ Até que as flores escutem com sinos desdobrados; \ Todos os ventos que murmuram sobre a grama do verão, \ Ou encrespam as ondas na costa pedregosa; \ Principalmente todas as vozes humanas sinceras levantadas \ Em caridade e pela causa da verdade, \ Misturam-se em um acorde sagrado, \ E flutuam, um incenso agradecido, até Deus. VÉSPERA DE ANO NOVO E DIA DE ANO NOVO – Adeus, Ano Velho! \ E contigo leva \ Graças pelas dádivas a todas as terras \ que Tu trouxeste em tuas mãos generosas, \ E tudo o que ensinaste aos corações teus passos demorados abandonam. \ Adeus, Ano Velho! \ O Passado espera por ti. \ Quem governa em seu poder sozinho \ O reino do esquecimento. \ Silenciosa, ela se senta na cadeira de ébano; \ Névoas caindo de cabelos escuros \ Velam o brilho glorioso de seus olhos escuros, \ Cheios de ajuda sábia e verdade divina. \ Silencioso, a menos que um som intermitente, \ Como de alguma caverna subterrânea, \ Roube de seus lábios; a companhia \ De anos antigos que a rodeiam, \ Então cantando, um por um, dá voz \ À velha experiência em sua canção.\ Adeus, Ano Velho! \ Tu vais sozinho, \ Como nós faremos: tuas páginas alegres, \Estações e meses que te cercam, \ Acompanham-te até a borda mais distante da Terra, então volta! para cumprimentar teu filho.\ Salve, Ano Novo! \ Embalado nas nuvens da manhã \ Dourado e branco. Não posso ver \ Teu rosto - está envolto em mistério; \ Mas a primavera para ti está pintando flores, \ e o verão adorna seus caramanchões de tecido; \ Os ricos feixes do outono logo serão colhidos, \ Com estoque de frutas embebidas em raios de sol, \ E uma a uma, com mão gentil, dobras para trás tuas mortalhas iluminadas pelo sol.\ Salve, Ano Novo! \ Brilhante e belo, \ Tu caminharás na plenitude \ Da juventude e seu humor alegre. \ Último filho de meio século, \ E tempo de vitória vindoura \ Sobre os espíritos da noite e do pecado, \ Cujos uivos de derrota começam: \ Tu trazes esperança e trabalho abençoado \ Em visões de descanso bem-sucedido, \ Trazes grandes pensamentos e ações forjadas \ Em fogo sobre aquela forja de pensamento, \ E com a alma de seriedade eu acho que tua juventude está cheia.\ Salve, Ano Novo! \ Minha expressão é muito fraca \ Para contar tudo o que penso que trazes, \ Para ecoar a canção que cantas; \ Mas os próprios ventos do Céu para aqueles que os ouvem, falem! Poemas da escritora e ativista feminista inglesa Bessie Rayner Parkes (1829-1925).

 


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