segunda-feira, julho 22, 2013

ÁGNES HELLER, LUGONES, MASEFIELD, MORLEY. MAXIMILIEN DE WALDECK, LITERATURA DE CORDEL & LITERÓTICA


OS VENTOS DO VENTRE DESNUDADO – Lá estava ela: a franja sobre os olhos possessivos, as pálpebras da luxúria no batom da boca Madonna entreaberta a expor o decote da Monika de Bergman com a sua empolgação contagiante. Ajeitou os óculos na bolsa e entrelaçou sua mão à minha, enquanto as pernas se enroscavam entre joelhos, ósculos e amplexos, os seios acesos e estufados sob a blusa decotada. Delicadamente desabotou minha camisa e deslizou mansamente a mão por meu omoplata e sentiu o meu peito ofegante para ousar afago sobre meus músculos embaixo da camisa. Beijei-lhe timidamente enquanto se livrava do sutien e expunha seu magistral desejo tímido. Fitei-lhe fundo os olhos e na minha Íris ela era Mira, a Omicron Ceti, a estrela maravilhosa a me levar pela constelação de Cetus, como se fosse um passeio por Hegra na Nabateia da Al-Hirj. Beijos e toques logo ela se fez desnuda estrela vermelha Betelgeuse, a Alpha Orionis, como se fosse Ericto de Ferri lindamente exposta para minha gula de sátiro grego, o manequim que a fez bacante na odisseia dos meus desejos mais incendiados. Com perícia sucumbi sob suas saias, mãos atrevidas a demover sua calcinha úmida e todas as águas jorraram de suas entranhas para me lavar a alma e o sexo. Recostou-se nua como se fosse a indefesa La Cigale de Lefebvre e alisou a glande do meu sexo como se fosse João Batista na cena da Salomé de Bonnard. Reclinou-se a beijar meu morango e pude atravessar galáxias inteiras no céu da sua boca. Inquieta incendiária me ofertou os ventos do seu ventre desnudado: o seu sexo era o Campi Flegrei pronto para entrar em ebulição com a Origem do Mundo de Courbet inflamada para minha excitante penetração profunda, investindo firme até que o seu gozo era a erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai. A nossa orgia parecia mais o Jardim das Delícias de Bosch, com todas as poses de Maximilien de Waldeck, as esculturas eróticas do Kajuraho e dos amantes das ilustrações nas paredes de Pompeia. No ápice do prazer vivi nela a Eterna Primavera de Rodin. Veja mais aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não se converte um homem quando o reduzimos ao silêncio. Existe no coração de todos os homens um nervo secreto que reage às vibrações da beleza. Só existe um êxito: a capacidade de levar a vida que se quer. Pensamento do escritor estadunidense Christopher Morley (1890-1957). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU - Não se resiste sozinha à colonialidade do gênero. Resiste-se a ela desde dentro, de uma forma de compreender o mundo e de viver nele que é compartilhada e que pode compreender os atos de alguém, permitindo assim o reconhecimento. Quando penso em mim mesma como uma teórica da resistência, não é porque penso na resistência como o fim ou a meta da luta política, mas sim como seu começo, sua possibilidade. Pensamento da da filósofa, ativista e professora argentina Maria Lugones. Veja mais aqui.

 

VIDA COTIDIANA - [...] ninguém consegue identificar-se com sua atividade humano-genérica a ponto de desligar-se inteiramente da cotidianidade. [...] o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se “em funcionamento todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias. O fato de que todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento determina também, naturalmente, que nenhuma delas possa realizar-se, nem de longe, em toda sua intensidade. O homem da cotidianidade é atuante e fruidor, ativo e receptivo, mas não tem nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum desses aspectos; por isso, não pode aguça-los em toda a sua intensidade. [...]. Trecho extraído da obra Estrutura da vida cotidiana (Paz e Terra, 2004), da filósofa húngara Ágnes Heller (1929-2019), que em outra de suas obras, Sociología de la vida cotidiana (Península, 1977), expressa que: [...] A arte é a autoconsciência da humanidade: suas criações são sempre veículos da genericidade para-si e em múltiplos sentidos. A obra de arte é sempre imanente: representa o mundo como um mundo do homem, como um mundo feito pelo homem. Sua hierarquia de valores reflete o desenvolvimento da humanidade; no topo dessa hierarquia encontram-se sempre aqueles indivíduos (sentimentos, comportamentos individuais) que influenciam ao máximo o processo de desenvolvimento da essência genérica. Dito com mais precisão: o critério de “duração” de uma obra de arte é a elaboração de uma hierarquia desse tipo; se ela não consegue isso, desaparece no poço da história. Em consequência, a obra de arte constitui também a memória da humanidade. As obras suscitadas por conflitos de épocas hoje remotas podem ser gozadas porque o homem atual reconhece naqueles conflitos a pré-história de sua própria vida, de seu próprio conflito: através deles desperta-se a recordação da infância e da juventude da humanidade. [...]. Veja mais aqui,

 

A CAIXA DAS DELÍCIAS – [...] O Natal tem que ser atualizado”, disse Maria. “Deveria ter bandidos, aviões e muitas pistolas automáticas.” [...] Trecho extraídos da obra The Box of Delights (Egmort, 2007), do poeta inglês John Masefield (1878-1967), autor de frases como: Os dias que nos fazem felizes nos tornam sábios. A alma distante pode abalar a alma do amigo distante e fazer sentir a saudade, por incontáveis milhas. Só a estrada e a madrugada, o sol, o vento e a chuva, E o relógio dispara sob as estrelas, e dorme, e a estrada novamente. Veja mais aqui.

 


MAXILIMILIEN DE WALDECK – Imagem recolhida da obra I Modi: The Sixteen Pleasures : An Erotic Album of the Italian Renaissance: The Sixteen Pleasures : an Erotic Album of the Italian Renaissance: Giulio... and Count Jean-Frederic-Maximilien De Waldeck (Northwestern Univ Pr, 1989), reunindo a obra do artista, antiquário, cartógrafo francês Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck (1766-1875), tornando-se famoso pela publicação de suas gravuras I Modi. Morreu aos 109 anos de ataque cardíaco ao visualizar uma bela mulher perto da Champs-Élysées, em Paris.

 



Ilustração: J. Lanzelotti

MELANCIA E COCO MOLE

Havia um homem que gostava muito de uma moça e queria casar com ela.

Um dia ele foi chamado pras guerras e disse à moça que não casasse com outro, que quando ele voltasse casaria com ela.

Para ninguém desconfiar o rapaz tratava a moça por Melancia e a moça o tratava por Coco Mole.

Um dia se despediram muito chorosos e ele partiu para as guerras.

Todo dia aparecia casamento para esta moça, porém ela não queria, com sentido no seu querido.

Passados alguns anos e, aparecendo um dia um casamento, o pai da moça decidiu que ela havia de aceitar. Ela fez o gosto do pai, e, quando foi no dia do casamento, o seu namorado chegou das guerras, indagou logo pela moça e soube que ela se casava naquele mesmo dia.

O rapaz ficou muito triste e não quis comer.

Um caboclo, que era pajem dele, perguntou-lhe por que estava tão triste. Sabendo da história, disse-lhe: "Não tem nada, meu amo. Deixe estar que eu arranjo tudo!!"

Havia uma árvore no fundo do quintal da casa da moça, onde ela costumava ir conversar com o antigo namorado. O caboclo ensinou ao amo que fosse para debaixo da árvore, que lhe garantia que a moça iria lá ter. Ele fez o que o caboclo recomendou, e este se dirigiu para casa da noiva. Chegando lá encontrou já todos os convidados, o noivo e a noiva já preparados, só faltando o padre para os casar. O caboclo pediu licença para fazer uma saúde à noiva, chegou-se para junto dela e disse:

"Eu venho lá de tão longe
Corrido de tanta guerra
Melancia, Coco Mole
É chegado nesta terra"

Todos bateram palma e disseram: "Bravo! Caboclo, faça outra saúde".

O caboclo retrucou:

"Não há bebida tão boa
Como seja o aluá
Melancia, Coco Mole
Vos espera no lugar”

Todos bradaram: "Muito bem! Caboclo!… faça outra saúde!"

O caboclo entusiasmado continuou:

"Moça, que estais tão bonita
Não vos lembrais do passado
Melancia, Como Mole
Vos manda muito recado"

Aí a moça levantou-se e disse que ia beber água. Saiu caladinha pela porta do quintal e foi direitinho à árvore onde ela costumava ir conversar com seu antigo namorado, que era o do peito. Chegando aí, encontrou-o e ao mesmo tempo a um padre que já ali se achava apalavrado para os casar. Veja mais aqui.

FONTES:
BRANDÃO, Theo. Um conto popular brasileiro. Revista Brasileira de Folclore, ano VI, n. 14, pp. 5-52, jan-abril, 1966.
CASCUDO, Luís da Câmara. A literatura oral no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EdUSP, 1988.
DANTAS, Paulo. Antologia ilustrada do folclore brasileiro: estórias e lendas do norte e nordeste. São Paulo: Edigraf, s/d.
LOPES NETO, João Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre : Martins Livreiro, 1998.
RESENDE, José Camelo de Melo. Coco Verde e Melancia – ou Armando e Rosa. São Paulo: Luzeiro, s/d.
ROMERO, Silvio. Contos populares. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.



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