quinta-feira, março 12, 2015

D´ANNUNZIO, KEROUAC, AL JARREAU, BENÍCIO, DEJAH THORIS & JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA.


CRENÇA – Era 1999 num período das vacas magérrimas e eu com uma reunião inadiável e imperdível para realizar, quando os tons dessa canção surgiu na minha cabeça. Faltavam quinze minutos para a reunião. Sem gravador, sem um taco de papel para rabiscar, isolado numa sala frienta aguardando a hora da conversação. Como morava perto, fui até o pessoal da secretaria que eu estava com um mal-estar e teria de ir em casa e que voltaria rapidíssimo. Assim fiz. Peguei o violão e mandei ver. Do jeito que saiu a música e a letra estão aí: É preciso respeitar melhor a vida / no amor que traz a paz que é tão bem vida. / Amar para se ter além do passional / e o coração valer o ser humano universal. / É preciso respeitar as diferenças / e não se equiparar ao que é hostil nas desavenças. / Lutar contra a mantença desigual / que forja o algoz na força do poder irracional. / Se entregar agora, todo dia e a noite inteira, / testemunhar assim as coisas verdadeiras. / Colher a lágrima do olhar mais desolado / para irrigar a sede do carinho devastado. / É preciso ter no olhar a flor da vida, / trazer a luz do sol nas mãos amanhecidas. / E perceber o amor no menor gesto natural / para valer o sonho mais presente mais real. / Se entregar agora, todo dia e a noite inteira, / testemunhar assim as coisas verdadeiras. / Colher a lágrima do olhar mais desolado / para irrigar a sede do carinho devastado. / E afinal poder sorrir / como quem vai feliz viver, / a manter a crença e o seu proceder na paz. / Semear a vida no ideal de colher / o que virá depois / pra ser alegria imensa para um, mais dois, mais! / Viver a vida pelo que foi e será, é e será! No final das contas, perdi a reunião e o negócio, ganhei a canção. Veja mais aqui.

Imagem: Mulher no banho (1972)– óleo sobre tela do pintor paulista José Antônio da Silva.

Ouvindo Al Jarreau Live In Londo (Warner, 1985) do cantor estadunidense sete vezes premiado com o Grammy Al Jarreau.

A PRINCESA QUE AMAVA INSETOS –  Imagem: Dejah Thoris, a Princesa de Marte, do escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs (1875-1950) - Das narrativas de Tsutsumi Tchunagon e de autoria incerta, a história A princesa que amava insetos (Mushi Mezuru Hime, Maravilhas do Conto Japonês – Cultrix, 1967), na tradução de Henrique Santo: Perto da princesa que gostava de borboleta morava um certo inspetor provincial. Tinha este uma só filha, a cuja educação, tanto ele como a esposa dedicavam os maiores desvelos. Como estranha moça que era, costumava dizer: - Por que razão toda a gente só fala de borboletas e sempre esquece os pobres vermes de que as borboletas se originam? O mais importante é sempre a forma natural das coisas. Colecionava toda a sorte de repteis e insetos, daqueles em que a maioria das pessoas tem medo e nojo de tocar. [...] Os pais achavam tudo isto deveras singular e bem teriam querido que ela se parecesse mais com as moças da sua idade; mas viram que de nada servia questionar. Ela, por seu lado, explicou-lhes pacientemente suas opiniões e pensamentos, mas daí só resultou terem eles percebido que ela muito lhes ganhava em inteligência e sutileza. – Sem dúvida – consideravam eles – tudo o que dizes é bem verdade, e pela parte que nos toca és livre de proceder como quiseres. Mas, regra geral, as pessoas somente se afeiçoam a coisas belas e atraentes. Se chegam a saber que tens contigo essas lagartas peludas, sentirão asco de ti e ninguém desejará te conhecer. – Pouco me importa o que os outros pensem – respondia ela. – Interessa-me indagar acerca de todas as coisas existentes e descobrir como foi que começaram. Nada mais me importa. E muito néscia é essa gente se não gosta das lagartas, que todas cedo se tornarão em formosas borboletas. E de novo lhes explicava por miúdo como o casulo, tal qual as pesadas roupas que os seres humanos usam no inverno, envolve toda a lagarta, até que as suas asas cresçam, e ela fique pronta para ser uma borboleta. Ei-la então que de súbito agita as suas asinhas brancas e se põe a voar... Tudo isto era sem dúvida bem sensato e reconheciam nada poderem objetar; tais ideias, no entanto, não deixavam de muito os afligir. Mas ela também evitava dirigir-se frontalmente aos pais, alegando: - Mulheres e demônios, quanto mais longe melhor. E discretamente conversava com os pauis através de uma abertura nas gelosias meio abertas da sala de estar. [...] ela mandou-lhe os seguintes versos: Assim como mencionaste o nome de lagarta, assim te mostrarei a singularidade de meu caráter depois que me disseres teu nome. Muma-no-Suke comentou: Em todo o mundo, receio bem, não se encontra um homem tão bom e dedicado que possa afinar sua vida com a desta princesa das lagartas. Após o que, se retirou para sua casa, rindo. Veja mais aqui.

AS MULHERESImagem: Mulheres, do premiado desenhista e ilustrador brasileiro Benício – José Luiz Benício. - O escritor, jornalista e dramaturgo italiano Gaetano Rapagnetta, conhecido pelo pseudônimo de Gabrielle D´Annunzio (1863-1938) possui um transbordamento passional e falta de escrúpulos com gosto pelo diletantismo, poses e fausto, contribuiu decisivamente para que se tornasse difícil e controvertida a apreciação de seu trabalho estético e literário. Inquieto, influenciável, oportunista, muitas vezes imitador e mesmo plagiário, ele ainda se impõe, contudo, pela riqueza de sua imaginação, pela força verbal e extraordinário domínio da língua. Poeta, sobretudo, é um dos melhores de seu tempo, sendo mais famoso como prosador, encontrando-se as marcas de Nietzsche e de Wagner na sua dramaturgia. Dele o seu poema As mulheres, na tradução de David Mourão Ferreira (Colóquio de Letras, 175 –vol. III – Vozes da Poesia Europeia): Houve mulheres serenas, / de olhos claros, infinitas / no seu silêncio, / como largas planícies / onde um rio ondeia; / houve mulheres alumiadas / de ouro, émulas do Estio / e do incêndio, / semelhantes a searas / luxuriantes / que a foice não tocou / nem o fogo devora, / sequer o dos astros sob um céu / inclemente; / houve mulheres tão frágeis / que uma só palavra / as tornava escravas, / como no bojo de uma taça / emborcada / se aprisiona uma abelha; / outras houve, de mãos incolores, / que todo o excesso extinguiam / sem rumor; / outras, de mãos subtis / e ágeis, cujo lento / passatempo / era o de insinuar-se entre as veias, / dividindo-as em fios de meada / e tingindo-as de azul marinho; / outras, pálidas, cansadas, / devastadas pelos beijos, / mas reacendendo-se de amor / até à medula, / com o rosto em chamas / entre os cabelos oculto, / as narinas como / asas inquietas, / os lábios como / palavras de festa, / as pálpebras como / violetas. / E houve outras ainda. / E maravilhosamente / eu as conheci. Veja mais aqui e aqui.

ON THE ROAD – A obra prima do escritor estadunidense Jack Kerouac (1922-1969), On the road (Pé na estrada – Cultural, 1986), foi consagrada como a Bíblia Hippie e caracterizada pelo folego narrativo alucinante com estilo avalanche sob efeito de benzedrina. Da obra destaco esse trecho: [...] Assim na América quando o sol se põe e eu sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey e posso sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão até a costa oeste, e toda aquela estrada seguindo em frente, todas as pessoas sonhando nessa imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? E a estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela ultima vez antes da chegada da noite completa que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice, eu penso então em Dean Moriarty, penso até no velho Dean Moriarty, o pai que jamais encontramos, eu penso em Dean Moriarty. Esse livro foi transportado para o cinema como aventura de drama denominado Na Estrada (2012) dirigido por Walter Salles e Sam Riley, com produção de Francis Ford Coppola, música de Gustavo Santaolalla e roteiro de José Rivera. No elenco destaque para a belíssima e premiada atriz estadunidense Kristen Stewart. Veja mais aqui.

 


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