terça-feira, setembro 01, 2015

BOAL, CENDRARS, COSTA-GAVRAS, RAVEL, TARSILA, STAGIUM, PSICOLOGIA SOCIAL & PROGRAMA TATARITARITATÁ.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? BOM DIA - Bom dia, vida. Estou pronto pra mais um dia. Pra quem já sucumbiu lambendo as feridas dos trocentos nãos e zis mortes – quem não sucumbiu? -, estou pronto pro desafio de mais um dia. Não para brincar de acerto e erro, nem unidunitê pelas múltiplas escolhas da ocasião, ou chocado e desapontado com as circunstancia ou por me encontrar na condição de perdido por um, perdido por mil. Nada disso. Estou pronto pro maravilhoso inferno da natureza mortal com seu constante golpe de estomatópode. Estou pronto com as portas da alma abertas e cônscio das aprendizagens. E mais tivesse portas cerradas, sinais fechados, tumultos de brechas ou frestas e fissuras remendadas, estalidos de ligas rompidas, bombardeios do inopinado ou o que for, estou pronto e apreendendo no meio disso tudo a lição de Huxley: “os esforços feitos e continuamente repetidos durante os períodos monótonos entre uma crise e outra”. Estou pronto, sem que meu rosto esteja vincado e patético pela tribulação pulsante da árdua luta na evolução silenciosa e imperceptível, e não menos firme e expondo-me ao ridículo pelas construções de castelos de Blênio. Estou pronto por seguir digitígrado pisando certo nas contas da ponte do Ábaco, mesmo que melancólico e solitário que, em última instância, me levam a cambalear entre os sobressaltos do iminente. Estou pronto com a capacidade de flexível adaptação para reverter o desdém e a difamação das emoções oriundas das convenções sociais opressoras e que me forçam a pensar na troca dos dogmas sagrados e na libertação da sociedade das instituições obsoletas. Estou pronto diante dos revezes que insistem grunhir ao meu encalço, como cães de guarda que me fazem cama de gato para tropeçar exausto e completamente extenuado cair em desgraça na furiosa danação que não me deixa escapar dos efeitos da maldição da humanidade. Em situação diametralmente oposta, refaço-me numa sóbria conclusão que dissipa os meus aspirantes tropeços e me fazem seguir com passos persistentes pelas viagens longas, difíceis e confusas que me deixam os olhos abertos a contemplar dos sete mares, encostas e vales, na insistente busca por um lampejo de luz com paciência, resolução, autossacrificio e conscientização do alcance necessário do equilbrio e da integração. Estou pronto pra viagem com o irmão espitritual e as irmãs selvagens na nossa imensa escuridão até a redenção. Estou pronto para exultar no caminho da maturidade que promete a emancipação e comunhão sagrada, abandonando o herói e completamente humano com criatividade, espontaneidade e autenticidade para ter acesso ao conhecimento suprassensível e me postar receptivo aos ritmos e impulsos vibracionais incomuns para iluminação do ser humano. Estou pronto e aprendendo a usar as leis divinas construtivamente. Estou pronto e alcanço a ubiquidade: basta um olhar risonho da criança, e estou pronto pra recomeçar. Bom dia. Veja mais aqui.


Imagem: Nu (1923), da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973). Veja mais aqui.


Curtindo o álbum Daphnis Et Chloé (Deutsche Grammophom, 1987), do compositor e pianista francês Maurice Ravel (1875-1937), com o regente de orquestra japonês Seiji Ozawa % Boston Symphony Orchestra.

PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS CONSELHOS DE SAÚDE – No livro Método histórico-social na psicologia social (Vozes, 2005), organizado por Angelo Antonio Abrantes, Nilma Renildes da Silva e Sueli Terezinha Ferreira Martins, encontro o estudo O materialismo histórico e a pesquisa-ação em psicologia social e saúde, de Sueli Terezinha Ferreira Martins, do qual destaco o trecho: [...] Na perspectiva que estamos trabalhando, faz-se necessário romper com a ilusão do individuo livre e independente, senhor inteiramente de suas ações, vontade e representações, dono único de sua subjetividade e intencionalidade. Tal ilusão sobre o individuo realizada pelos profetas do século XVIII ainda existe no final do século XX com forte presença na sociedade, o que por sua vez encobre e mascara as relações sociais determinando o sujeito. Desse modo, quando falamos em intencionalidade, consciência e ampliação da autonomia do individuo, é importante ter claro que estes aparecem na maioria das vezes em sua forma idealizada, em uma perspectiva liberal que deixa de enfatizar a natureza social do homem. não podemos perder de vista que a contradição fundamental do regime capitalista (produção material socializada e apropriação privada) reflete-se por todas as esferas da sociedade, desenvolvendo relações sociais alienadas e antagônicas. Desta maneira, os produtos sociais, materiais e espirituais tendem a tornarem-se estranhos aos seus próprios produtores. Acreditar, portanto, que o individuo pode exercer suas atividades com liberdade ou independência moral e intelectual é compartilhar com a ilusão dos profetas do século XVIII, é desconsiderar a natureza social do homem [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A PRINCESA MARYA E BLÊNIO - No livro Northern lights: fairy tales of the peoples of the North, de Irina Zheleznova, encontro a narrativa A princesa Marya e Blênio, da qual destaco os trechos: Certa vez, numa terra muito distante, vivia uma princesa tão bela que muitos e muitos príncipes vieram pedir-lhe a mão. Mas seu pai, o car, recusou-os todos, achando que nenhum era bom o bastante para ela. Certo dia, um velho perguntou-lhe se seu filho poderia casar-se com a princesa. Quem é seu filho?, perguntou o czar. Majestade, respondeu o velho, meu filho é um blênio. Mas esse é um peixe que vive no fundo do rio! – o czar exclamou. O que você está dizendo é ridículo [...] Naquele momento, detrás de uma cortina próxima ao czar, ela se manifestou: Pai, por que você não dá uma tarefa ao Blênio? Se ele obtiver êxito, casar-me-ei com ele, mas se ele fracassar, deverá ser morto. É assim que os russos fazem [...] O czar, nesse interim, vira o trenó com os três cavalos, e quando o velho chegou o monarca declarou: Seu filho cumpriu minhas três tarefas, então manterei minha promessa. Traga-o aqui, e a princesa irá casar-se com ele, hoje mesmo, não importando o que o povo diga. O velho correu para casa e contou as novidades ao filho. Bom, pai, disse Blênio, coloque-me num saco e leve-me até o palácio para a festa do casamento. Ao longo do caminho, os cidadãos se reuniram e riram porque a princesa estava se casando com um peixe. [...] Certa manhã, a princesa acordou mais cedo que de costume. Sentou-se sozinha, sentindo-se triste e envergonhada. Todos riem de mim por ter me casado com um peixe, ela falava consigo, e eu estou muito cansada disso. De repente, teve uma ideia. Se eu queimar a pele de peixe do meu marido antes que ele acorde, ele deve permanecer um homem! Ela agarrou o traje de peixe, lançou-o ao fogo e entrou no quarto; contudo, seu marido havia desaparecido. Naquele momento, um pequeno pássaro entrou voando pela janela. Que pena, princesa Marya, disse a ave. Se você tivesse esperado mais três dias, seu marido teria ficado livre de um feitiço maligno. Teria permanecido humano o resto da vida, mas agora você o perdeu. Com essas palavras, a ave saiu voando pela janela [...] Naquele momento, uma das lágrima de Mary cai sobre o rosto de Blênio, que acorda sobressaltado. Está chovendo? Gritou. Saia agora!, a filha do Rei Fogo berrou para a princesa Marya. Blenio viu Marya em pé ao seu lado e imediatamente a reconheceu. Marya! É você! Finalmente você chegou! Saia!, disse a filha do Rei Fogo a Marya, tentando puxá-la para fora do quarto. Deixe que ela fique, exclamou Blenio à segunda esposa. Ela é Marya, minha primeira e verdadeira esposa. [...] Então Blênio reuniu todos os anciãos do reino, ofereceu-lhes uma grande festa e perguntou-lhes: Qual destas é a minha verdadeira esposa? A que arriscou a vida para me encontrar, usando três pares de botas de ferro, três chapéus de ferro e comeu três pães de ferro, ou a que me trocou por um pente, um anel e um lenço? Os anciãos responderam em uníssono: Sua verdadeira esposa é Marya, e é com ela que você deve viver. Blenio concordou e voltando-se para Marya disse: Está na hora de voltarmos para casa [...] Veja mais aqui.

EU VI – No livro Poesia em viagem (Assírio & Alvim, 2005), do escritor suíço Blaise Cendrars (1887-1961), destaco o poema Eu vi, a seguir transcrito: Eu vi / Vi os comboios silenciosos os comboios negros que / vinham do Extremo-Oriente e que passavam como / fantasmas / E o meu olhar, como a lanterna da retaguarda, corre / ainda atrás desses comboios / Em Talga 100 000 feridos agonizavam por falta / de cuidados / Visitei os hospitais de Krasnõiarsk / E em Khi!ok cruzámos com um longo comboio de / soldados loucos / Vi nos lazaretos chagas abertas feridas que / sangravam a jorros. / E os membros amputados dançavam em volta / ou levantavam voo no ar roufenho / O incêndio estava em todos os rostos em todos / os corações / Dedos idiotas tamborilavam em todos os vidros / E sob a pressão do medo os olhares rebentavam / como abcessos / Em todas as estações deitavam fogo aos vagões / E vi / Vi comboios de 60 locomotivas que se escapavam / a todo o vapor perseguidas pelos horizontes / com cio e bandos de corvos que voavam / desesperadamente atrás, / Desaparecer / Na direcção de Porto-Artur. / Em Tchita tivemos alguns dias de descanso / Paragem de cinco dias devido a obstáculos da linha / Passámo-los em casa do Senhor lankéléwitch, que / queria dar-me em casamento a sua filha única. / Depois o comboio tornou a partir. / Agora era eu que me sentara ao piano e tinha dores / de dentes / Revejo quando quero esse interior calmo a loja do pai / e os olhos da filha que vinha à noite para a minha cama / Moussorgsky / E os lieder de Hugo Wolf / E as areias do Gobi / E em Khaïlar uma caravana de camelos brancos / Creio bem que estive bêbedo durante mais de / 500 quilômetros / Mas eu estava ao piano e foi tudo quanto vi / Quando se viaja deviam-se fechar os olhos / Dormir / Gostaria tanto de dormir / Reconheço todos os países de olhos fechados pelo / seu odor / E reconheço todos os comboios pelo barulho que / fazem / Os comboios da Europa são a quatro tempos enquanto / os da Ásia são a cinco ou a sete / Outros seguem em surdina são canções de embalar / E há os que no ruído monótono das rodas me lembram / a prosa pesada de Maeterlinck / Decifrei todos os textos confusos das rodas e reuni / os elementos dispersos duma violenta beleza / Que eu possuo / E me força. / Tsitsika e Kharbine / Não vou mais longe / É a última estação / Desembarquei em Kharbine quando acabavam / de deitar fogo às instalações da Cruz Vermelha. / Ó Paris / Grande lareira ardente com os tições entrecruzados / das tuas ruas e velhas casas que se debruçam / por cima e se aquecem / Como os avós / E eis os anúncios, vermelho, verde, multicolores como / o meu passado em resumo amarelo / Amarela a cor altiva dos romances da França / no estrangeiro. / Nas grandes cidades gosto de me meter nos / autocarros em andamento / Os da linha Saint-Germain-Montmartre levam-me / ao assalto da Butte / Os motores mugem como touros de ouro / As vacas do crepúsculo pastam o Sacré-Coeur / Ó Paris / Estação central cais das vontades cruzamento das / inquietações / Só os droguistas têm ainda um pouco de luz por cima / das portas / A Companhia Internacional das Carruagem-Camas / e dos Grandes Expressos Europeus enviou-me / um prospecto / É a mais bela igreja do mundo / Tenho amigos que me rodeiam como barreiras / Têm medo quando eu parto que nunca mais volte / Todas as mulheres que conheci erguem-se / nos horizontes / Com gestos lastimosos e olhares tristes de semáforos / à chuva / Bela, Inês, Catarina e a mãe ‘do meu filho na Itália / E ainda a mãe do meu amor na América / Há gritos de sirene que me rasgam a alma / Na Manchúria um ventre estremece ainda como num / parto / Gostaria / Gostaria de nunca ter feito as minhas viagens / Esta noite um grande amor atormenta-me / E contra a minha vontade penso na jovem Joana / de França. / Foi numa noite de tristeza que escrevi este poema / em sua honra / Joana / A jovem prostituta / Estou triste estou triste / Irei ao Lapin Agile recordar-me da minha juventude / perdida / E beber copinhos / Depois voltarei sozinho para casa. Veja mais aqui e aqui.

UMA REVOLUÇÃO COPERNICANA AO CONTRÁRIO – No livro Técnicas latino-americanas de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário (Hucitec, 1979), do dramaturgo e ensaísta Augusto Boal (1931-2009), destaco o Apendice nº 1 – Uma revolução copernicana ao contrário, do qual destaco o trecho: Algo muito importante está sucedendo na América Latina. A ideia bolivariana da Pátria Grande parece depender agora da nossa geração, dos nossos esforços, da nossa solidariedade e disposição para a luta. A ideis da unidade dos nossos povos, sem a participação da Sociedade Anônima Estados Unidos da América do Norte, já se aproxima da realidade. Cuba foi a primeira vitória concreta contra o imperialismo. Foi o primeiro país a conseguir a segunda e definitiva libertação. Por outros caminhso e em distintas velocidades de transito, Peru, Panamá, Argentina, e outros inevitavelmente se levantarão. Algo muito importante está sucedendo na América Latina: os povos descobrem que são o sujeito da história, o motor da sociedade, o centro do nosso universo: não mais satélites. A conscientização dos povos não é um fenômeno exclusivamente político, visto que tem também os seus reflexos em outras esferas da atividade do homem. Assim também a exploração imperialista não é só econômica, mas alcança todas as atividades humanas. A nossa revolução latino-americana faz-se contra a exploração econômica, mas deve igualmente fazer-se contra todas as outras formas de dominação. Para melhor exercer a sua exploração infraestrutural, o imperialismo utiliza as superestruturas morais, estéticas, etc., também redutos da batalha da libertação. [...] Estamos realizando uma revolução copernicana ao contrário. Sempre fomos satélites de arte metropolitana. Agora estamos proclamando que somos o centro do nosso universo artístico. O teatro verdadeiro é o teatro latino-americano. Isto é, este é o nosso teatro, portanto, é o teatro. [...] Veja mais aqui e aqui.

ESTADO DE SÍTIO – O filme Estado de sítio (1972) dirigido pelo cineasta grego Costa-Gavras, com roteiro do diretor baseado no livro de Franco Molinas, e música de Míkis Theororákis, é baseado em fatos reais e conta o sequestro no Uruguai do agente americano Dan Mitrione e do consul brasileiro Aloysio Gomide pelos Tupamaros, em 1970. A trama acontece em Montividéu, quando um funcionário da entidade AID é raptado por um grupo de guerrilha urbana de extrema-esquerda, juntamente com duas outras autoridades, sendo que, entre eles, o funcionário da embaixada norte-americana consegue escapar. Durante o interrogatório, os raptados deixam evidenciar que a missão real deles é instruir policiais de vários países sil-americanos para a prática com métodos de tortura, intimidação e assassinatos sem julgamento, levando a formação de Esquadrões da Morte, acobertados pelas autoridades. Enquanto estão cativos, os sequestradores negociam com o governo a troca dos reféns por prisioneiros políticos, causando uma grave crise institucional e a quase renúncia do presidente do país. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
No dia dos bailarinos a nossa homenagem à companhia Ballet Stagium, fundada em 1971 e dirigida por Marika Gidali e Décio Otero.

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Na programação Elis Regina, Chico Buarque, Simone, Adriana Calcanhoto, Ana Carolina, Lenine, Maria Rita, Milton Nascimento & Lô Borges, Fator IV, Elisa Lemos, Banda Oficina 137, Banda Vibrações, Embracanto, Nó na Garganta & Orquestra de Cordas Caetés, Gama Júnior & Jaques Setton, Ricardo Machado, Johann Pachelbel, Zendaya Coleman, Conway Twitty, Bianca Ryan, Barry Gibb, Gloria Stefan, Engelbert Humperdinck, Art Pepper & um especial com Cikó Macedo. E para conferir online acesse aqui.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.


JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

  Imagem: Acervo ArtLAM . A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito dis...