segunda-feira, setembro 21, 2015

TOURAINE, CERNUDA, HERBERTO, BELGUELL, WILMAN, SZIDON, APPOLONIA & COPERNICANISMO AO CONTRÁRIO.




VAMOS APRUMAR A CONVERSA? UMA REVOLUÇÃO COPERNICANA AO CONTRÁRIO – (Imagem: Edição Especial nº 5, ano II, 1984, da Revista A Região) – Epígrafe: “Sempre fomos satélites da arte metropolitana. Agora estamos proclamando que somos o centro do nosso universo artístico” Augusto Boal. COPERNICANISMO – Nicolaj Kopernik (1473-1548), astrônomo polonês, mais conhecido como Nicolaus Copérnicus, publicou em 1530, sob uma censura eclesiástica que tolhia todo conhecimento científico, Pequeno comentário sobre as hipóteses da constituição do movimento celeste, e em 1543, Sobre a revolução das orbes celestes, em que estabelecia uma nova informação: “A Terra move-se em torno do sol”. Tal postulação revolucionária contratrio fundamentalmente a Igreja, bem como o princípio básico do sistema de Ptolomeu, colocando o Sol como centro do nosso universo. O Heliocentrismo significou naquela época a resistência aos preceitos antiquados impostos pelo Santo Oficio, que correspondiam ao conservadorismo sectário. O postulado de Copernico foi mais tarde consagrado por Galileu Galilei e John Kepler, que também não escaparam das mãos do Santo Oficio que proibiu não só a obra de Copernico, ameaçando quem se manifestasse a favor de tal “heresia”. Era heresia, sim, assim eram chamados os novos conhecimentos, mas a verdade sempre supura pelas paredes do poder e se comunga com o mundo. Hoje, o Heliocentrismo, por contradições paradoxais que o tempo revela ao conhecimento humano, nas declinações do seu real significado, representa aos povos subdesenvolvidos do século XX, hegemonia, colonialismo, imperialismo e aculturação. O COPERNICANISMO AO CONTRÁRIO – A revolução copernicana ao contrário é um postulado criado por Augusto Boal (1931-2009). Em seu livro Técnicas latino-americanas de teatro popular (Hucitec, 1979), e quer dizer justamente a negação dessa hegemonia império-colonial imposta pelas potencias aos países em desenvolvimento. A revolução é reconhecermos nossa própria identidade sem permitir invasões e imposições alienígenas, valorizando e conhecendo nosso valor para que possamos afugentar o que não é nosso e o que não tem nada que ver conosco: é readquirir a consciência nacional, sua história, seus costumes, seus anseios. Significa termos que ser nós mesmos o centro do nosso próprio universo. De fato, é muito bonito assimilar-se o sentimento do humanismo universalista, em que se prega que o povo brasileiro é o mesmo do da Alemanha, da Argentina, da Suiça, da Rússia, entre outros, sim, mas entre esses mesmos povos existem dessemelhanças de ordem social, econômica, política e cultural, que não devem ser ignoradas nem ficar à margem de qualquer posicionamento, e que é impossível que dentro de uma busca por emancipação e legitimidade, ceder em nome desse humanismo universalista nossa identidade e imiscuir-nos num jogo alienante em detrimento de nossa raiz, vez que o que é nosso, jamais deverá ser submetido aos outros; o que é nosso, é nosso; o que é dos outros, é dos outros. E se nós não tivermos essa identidade, ficaremos sempre na periferia como marginalizados que optaram pelo ostracismo. Com isso, é preciso descobrir o Brasil que, ainda, por sinal, não foi descoberto pelos brasileiros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 Imagem: La Temis desnuda – A deusa grega da justiça, do destino e da profecia, guardiã dos juramentos dos homens e da lei (Canvas oil, 2007), do artista plástico colombiano Wilman Emir Causa Acero.


Curtindo o álbum Obras para piano de Radamés Gnatalli (Deutsche Grammofon/Phonogram, 1978), do pianista brasileiro Roberto Szidon (1941-2011).

A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA - O livro O que é democracia? (Vozes, 1996), do sociólogo francês Alain Touraine, que se dedicou à sociologia do trabalho e dos movimentos sociais, autor da expressão sociedade pós-industrial, trata sobre as três dimensões da democracia, os direitos do homem, representatividade, cidadania, a limitação do poder, história do espírito democrático moderno, a cultura democrática, democracia e desenvolvimento, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho A América Latina ou a democracia em tutela: [...] Quando a modernização não é auto-sustentada – como é o caso da América Latina em que, para o melhor e para o pior, ela veio claramente de fora – a democracia é limitada pela fusão parcial do Estado com a sociedade política e os atores sociais; tal situação pode se transformar em ditadura autoritária, mas acontece que, na maior parte das vezes, acabou protegendo a sociedade contra o Estado modernizador autoritário. O México, e sobretudo, o Brasil, conheceram tais Estados bismarckianos nacionalistas, industrializadores e autoritários, mas o modelo predominante no continente foi muito mais fraco: um Estado redistribuidor de recursos de origem externa, apoiado em uma classe média urbana que vive em grande parte em sua dependência; além disso, tal Estado dirigia e controlava diretamente tanto suas empresas e bancos, quanto os sindicatos e associações. É evidente a fragilidade desse regime: a mistura dos atores pode enfraquece-los, tanto o Estado como os atores sociais, generalizando o clientelismo e a corrupção [...] Nos países em desenvolvimento, uma política puramente liberal só poderá produzir efeitos contrários à democracia. Difunde o estilo de vida dos países ricos em uma parte da população – na realidade, mais considerável do que possa ser indicado pelos dados econômicos – mas deixa na exclusão uma parte importante dos marginais que, no entanto, gostariam de participar da vida social como consumidores e cidadãos. [...] A América Latina assemelha-se muito à Europa pós-comunista. Nos dois casos, vemos uma região cindir-se em duas categorias de países. Uns, graças à solidez do respectivo sistema político, conseguem administrar as tensões e contradições peculiares da saída de um modelo estatal esgotado; os outros, sucumbem a essas tensões, se decompõem e restauram, mais cedo ou mais tarde, um regime autoritário. A América Latina está dividida entre os países que estão envolvidos pela violência, corrupção e economia clandestina e cujo sistema de representação política é incapaz de administrar as relações entre interesses que se tornaram estranhos uns aos outros e, por outro lado, os países cujo sistema político se reconstruiu e mostrou seu vigor. Na América Latina, assim como na Europa pós-comunista, o sucesso da reconstrução pós-autoritária dependerá não dos movimentos populares ou da lógica da economia, mas do funcionamento do sistema político. [...]. Veja mais aqui.

FÉRIAS NA MONTANHA – No livro Transcontos (Civilização Brasileira, 1977), do jornalista e escritor Herberto Salles (1917-1999), encontro o conto Férias na montanha, com o seguinte teor: A montanha era o lugar ideal para as férias, merecido descanso para aquela gente que gastava energias na cidade. O ar puro, as florestas, os regatos com o seu alegre tropel nas pedras. Uma volta à natureza, promovida a preços módicos, sob a orientação dos finlandeses, introdutores das atividades da colônia. Os brasileiros não precisavam retornar à sua primitiva condição de índios para desfrutarem os privilégios naturais das férias na montanha. Os finlandeses encarregavam-se de mostrar-lhes isto, misturando civilização e vida natural, em sábias doses de recuperação física e reconfoto do espirito. E com uma nota de erudição saudável, no lema que adotavam, conquanto não fosse um finês, mas em latim: Mens sana in corpore sano. [...] Simão, que viera sozinha para a montanha, na esperança de refazer-se da estafa que lhe arruinara os nervos, por excesso de serões no lanifício, mandou um cartã0-postal para a mulher avisando: “Estou num verdadeiro paraíso. Já nem pareço o mesmo homem. é a saúde que volta”. Selou o cartão e foi tomar o lanche: 1 copo de leite cru, com opção de coalhada crua. Depois do lanche havia nova caminhada, que ele cumpria à risca, incorporado ao grupo: sentia-se vagamente militar, sob o comando do finlandês que ia na frente, numa larga embalagem olímpica. Jantar: sala de frutas. E, com a noite, vinha o sono, inapelavelmente cheio de canseiras, mas nem sempre vazio de sonhos. Uma noite ele sonhou com uma bacalhoada. Mas foi despertado pelas palmas da finlandesa, soando ritmadas por todo o hotel, pois eram 5 e 20 e havia algo muito importante e novo no programa naquele horário. Todo o grupo submeteu-se ao programado: sentar em tinas de água gelada, postas no sereno desde a véspera. Na superfície havia uma lâmina muito fina, de gelo. Durava 40 minutos o sentar aquático. Era ótimo para prisão de ventre. No fim das férias Simão voltou para casa. Parecia, realmente, outro homem. para não morrer, teve de ser internado, às carreiras, na Beneficencia Portuguesa. Veja mais aqui e aqui.

CORPOS, FLORES, MORTE E NASCIMENTO – No livro Antologia (Cátedra, 1999), do poeta e critico literário espanhol Luis Cernuda (1902-1963), destaco os poemas que fazem parte do seu livro Los placeres prohibidos (1931), o primeiro deles Alguns corpos são como flores: Uns corpos são como flores, / Outros como punhais, / Outros como fitas de água; / Mas todos, cedo ou tarde, / Serão queimaduras que em outro corpo se engrandecem, / Convertendo em virtude do fogo uma pedra em um homem. / Mas o homem se agita em todas as direções, / Sonha com liberdades, compete com o vento, / Até que um dia a queimadura se apaga, / Voltando a ser pedra no caminho de ninguém. / Eu, que não sou pedra, mas caminho / Que cruzam ao passar os pés nus, / Morro de amor por todos eles; / Dou-lhes meu corpo para que o pisem, / Mesmo que lhes leve a uma ambição ou a uma nuvem, / Sem que nenhum compreenda / Que ambições ou nuvens / Não valem um amor que se entrega.O segundo, Queria saber por que esta morte: Queria saber por que esta morte / Ao ver-te, adolescente barulhento, / Mar dormido sob os astros negros, / Ainda constelado por escamas de sereias, / Ou seda que se estendem / Cambiante de fogos noturnos / E acordes palpitantes, / Louro como a chuva, / Sombrio como a vida às vezes é. / Ainda que sem ver-me desfiles a meu lado, / Furacão ignorante, / Estrela que roça minha mão abandonada sua eternidade, / Tu sabes bem, lembrança de séculos, / Como o amor é luta / Onde se mordem dois corpos iguais. / Eu não tinha te visto; / Olhava os animaizinhos gozando sob o sol verdejante, / Despreocupado das árvores iracundas, / Quando senti uma ferida que abriu a luz em mim; / A dor ensinava / Como uma forma opaca, copiando luz alheia, / Parece luminosa. / Tão luminosa, / Que minhas horas perdidas, eu mesmo, / Ficamos redimidos da sombra, / Para já não ser mais / Que memória de luz; / De luz que vi cruzar-me, / Seda, água ou árvore, um momento. Por fim o seu poema Direi como vocês nasceram: Direi como vocês nasceram, prazeres proibidos, / Como nasce um desejo sobre torres de espanto, / Ameaçadores barrotes, fel desbotada, / Noite petrificada à força de punhos, / Diante de todos, inclusive o mais rebelde, / Apto somente na vida sem muros. / Couraças infranqueáveis, lanças ou punhais, / Tudo é bom se deforma um corpo; / Teu desejo é beber essas folhas lascivas / Ou dormir nessa água acariciadora. / Não importa; / Já declaram teu espírito impuro. / Não importa a pureza, os dons que um destino / Levantou para as aves com mãos imperecíveis; / Não importa a juventude, sonho mais que homem, / O sorriso tão nobre, praia de seda sob a tempestade / De um regime caído. / Prazeres proibidos, planetas terreais, / Membros de mármore com sabor de estio, / Sumo de esponjas abandonadas pelo mar, / Flores de ferro, ressoantes como o peito de um homem. / Solidões altivas, coroas derrubadas, / Liberdades memoráveis, manto de juventudes; / Quem insulta esses frutos, trevas na língua, / Tu és vil como um rei, como sombra de rei / Arrastando-se aos pés da terra / Para conseguir um naco de vida. / Não sabia os limites impostos, / Limites de metal ou papel, / Já que o acaso lhe fez abrir os olhos sob uma luz tão alta, / Aonde não chegam realidades vazias, / Leis hediondas, códigos, ratos de paisagens arruinadas. / Estender então a mão / É achar uma montanha que proíbe, / Um bosque impenetrável que nega, / Um mar que traga adolescentes rebeldes. Veja mais aqui.

ESCREVER, DIRIGIR E ATUAR – A trajetória da atriz, diretora e jornalista Stella Miranda, começa com sua formatura em Jornalismo aos 23 anos, quando vai pra França e se forma em 1979 na École Jacques Lecoq, de Paris, tornando-se premiadíssima atriz, diretora, escritora e produtora de espetáculos teatrais. No teatro, como atriz ela atuou Triste fim de Policarpo Quaresma (1978), o Mistério bufo (1978), Ópera do malandro (1979), As mil e uma encarnações de Pompeu Loredo (1980), As bodas de Felissa (1982), um texto de sua autoria; aí representou no Galvez, o imperador do Acre (1983), O analista de Bagé (1983), Bel prazer (1985), texto de sua autora; Uma noite com Stella Miranda e Miguel Falabella (1987), Qualquer nota (1988), Caidaça na fossa – Tom Waits (1988), enquanto escrevia as peças teatrais Metralha (1996), Café Satie: memórias de um amnésico (1999) e Cioula (2000) e dirigia Salém da Imaginação (1998) e Subversões 3 ½ (2000); aí passou a atuar em South American way – Carmen Miranda (2001), passou a dirigir As alegres comadres (2006) e atuou em Império – Carlota Joaquina (2007) e Caidaça – Jesca Azurita (2008) esse texto de sua autoria e, ao mesmo tempo dirigindo Übber (2008); Miranda por Miranda (2009) texto escrito por ela, Sete por dois (2011), Subversões 2.1 (2012), Gozados (2012), A madrinha embriagada (2013), e Miranda por Miranda (2015). Estendeu suas participações para a televisão e para o cinema, merecendo em todas as áreas aplausos sempre de pé. Veja mais aqui.

DO HOMEM DO SPUTINIK AO INFINITAMENTE – Já a trajetória da atriz, cantora, compositora e cineasta Norma Benguell (1935-2013), teve início nos anos de 1950 e compreende a participação em 64 filmes, o primeiro deles O Homem do Spuntnik (1962) inclusive outros tantos em território europeu, fazendo história ao protagonizar o primeiro nu frontal no filme Os cafajestes (1962), valendo-lhe o título de uma das maiores musas do cinema e teatro brasileiro das décadas 1950/70. A partir de 1998, ela dirige os filmes Eternamente Pagu (1988), O guarani (1996), Magda Tagliaferro – o mundo dentro de um piano (2005) e Infinitamente (2005). Aqui a nossa modesta homenagem a esta grande artista. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte Appolonia Saintclair


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Crônica de Amor, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.

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HIRONDINA JOSHUA, NNEDI OKORAFOR, ELLIOT ARONSON & MARACATU

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Refúgio (2000), Duas Madrugadas (2005), Eyin Okan (2011), Andata e Ritorno (2014), Retalho...