quarta-feira, janeiro 16, 2008

PURA MAGIA & SANTANNA, LELE CORREA, JONATHAN COE, EDMUND LEIGHTON, LUIZ COSME & MARIA ODILA LEITE

 A arte do pintor britânico Edmund Leighton (1853-1922).

PURA MAGIA – Pura magia do jeito, o amor pra se conquistar. Irrequieta simpatia faz se iluminar nas avarias do peito, dos ais que vem soluçar, remove toda apatia pra poder sonhar. Tudo quanto pode o sonho, pode o amor provar, até o impossível que veleja pelo ar. Não se deve desistir porque o espaço é pra se conquistar. A vida segue sempre em frente até se exaurir. No mais, o que se explode há de ressugir, o que se esgota há de reluzir no fim e noutra maneira a coisa seja outro amanhã! Ah, E faça a vida inteira nunca parecer tão vã. Ah, tão sã manhã. O amor parece perfeito e é muito mais que amar, bem mais que a fé de amar. É perder o senso, a razão, é deixar rolar a emoção nos acordes soltos do violão, acontecer no coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. (Pura magia, Primeira Reunião – Bagaço, 1992). Poema sobre música de Santanna O Cantador. Veja mais aqui & aqui.


DITOS & DESDITOS – [...] A obra musical encerra em si o tempo e dá vida à sua estrutura e à sua forma, por isso, ao contrário do tempo nas artes plásticas, o tempo na música é preponderante. A arte dos sons tem um fluxo, cuja qualidade principal é o ritmo, esse ritmo é real, desenvolve-se num espaço que só o tempo permite oferecer: sendo a expressão, em suma, de um “élan” continuo para um limite sem fim. [...]. Trecho extraído da obra Música e tempo (MEC, 1952), do músico Luiz Cosme (1908-1965).

ALGUÉM FALOU – São muitas as dificuldades e os obstáculos que se apresentam para as que ousam se enveredar pelos estudos das mulheres em sociedade, pois trata-se de um terreno minado de incertezas, saturado de controvérsias movediças, pontuado de ambiguidades sutis, que é preciso discernir, iluminar, documentar mas que resistem a definições. Pressupõem-se soterradas as balizas epistemológicas tradicionais, como o ser humano universal, a verdade, a ciência que norteavam as ciências humanas no século passado. Trata-se de um domínio inóspito para quem sofre de ansiedade cartesiana, pois mais cabe ao pensamento feminista destruir parâmetros herdados do que construir marcos teóricos muito nítidos. Pensamento da historiadora, professora e pesquisadora Maria Odila Leite da Silva Dias. Veja mais aqui.

A CASA DO SONO – [...] O que realmente alarmou Sarah, o que a deixou vermelha de vergonha por ter levado Alison ao cinema naquela tarde, foi o caso de amor do filme com a morte; a forma como mostrava a morte como um show à parte, um carnaval, um Geraldo de piadas e uma panaceia cômica. [...]. Trecho da obra A casa do sono (Record, 2007), do escritor britânico Jonathan Coe.


O SONHO DE DESIDÉRIO


Lelé Correia


Eu vou contar pra vocês
Um causo bem engraçado
Foi um tá de pesadelo
Que tive o mês passado

Devido uma farinhada
Que fizemos nesse dia
Cheguei em casa bem tarde
Bastiana já drumia

Tava eu tão infadado
Que fui logo me deitando
Sem me importar com Bastiana
Do meu lado ali roncando

Assim que ferrei no sono
Fiquei logo encabulado
Sonhei que tava no céu
Cum São Pêdo ali do lado

Ele entonce muito alegre
Me dixe assim num sorriso
- Venha cá, seu Desidério
venha ver o paraíso.

E fumo nóis dois andando
Pru toda aquela beleza
São Pêdo ia mi inspricando
Cá maió delicadeza

Mostrou-me os santo, os apostro
Os anjo e a Virgem Maria
Monstrou-me inté uma rede
Adonde o Criador drumia.

Depois mostrou-me um salão
Cheio d´água cuma um rio
Adonde as onze mir virge
Ia lavá os seus fio.

Depois a gente passemo
Pru dentro dum casarão
Qui tava cheio de vela
Tudo acesa pulo chão

Aí, eu dixe: São Pêdo
Isso aqui é o sumitério?
Vai ele entonce arrespondeu:
- Não é não, seu Desidério.

Isso aqui que vancê vê
Uma grande coisa encerra
As vela arrepresenta
As vida de lá da terra

Essas grande os barandão
Qui vancê vê pruculá
São as vida das pessoas
Qui tão cedo num vem cá.

Porém aquelas pequena
Toquinhos já se apagando
São as vida dos infermo
Qui já tão se afolozando.

Entonce inçarei o santo
E in riba assim da fivela
Fui lhe dizendo: - São Pêdo
Mostre já a minha vela.

São Pêdo então mi mostrou
E eu tive aquele arripio
Lá no chão já se apagando
Um toquinho de pavio.

Aí o santo me dixe:
- Desidério, seja forte!
Porque você, meu amigo
Já tá nas porta da morte!

Quando o santo dixe isso
Fiquei todo avacaiado
Cai nos pé do veínho
De mãos postas, ajueiado.

E fui dizeno: - São Pêdo,
Não pode havê um jeitinho
Pra mode aquele pavio
Durá mais um bucadinho?

São Pêdo entonce cum pena
Daquela minha frição
Garrou num caco de azeite
Qui tava ali pulo chão

Me intregou e foi dizeno:
- Se acha a vida tão bela
bote azeite no pavio
não deixe apagar a vela.

Aí eu me acocorei
Ali junto da velinha
Muiava o dedo no azeite
E pingava na bichinha

Mas nisso acordo num sarto
Pois o diabo da mulé
Tava qui nem a peste
A me dá de pontapé.

E foi dizeno pra mim:
Releixado, isso tem jeito?
Pois vancê um homi veio
Não dá-se ainda ao respeito?

Isso é coisa que si faça?!
Dize ela qui nem louca:
- Tirá catôta da venta
e botá na minha boca?!!


CORREIA, Lelé. O sonho de Desidério. In: Poetas dos Palmares. Recife: FUNDARPE/Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.

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