sexta-feira, março 07, 2008

ROMAIN ROLLAND, LOBATO, AUGUSTO DOS ANJOS, SARTRE, SEURAT, ORLANDI & AS TRELAS DO DORO

 
A arte do pintor francês Georges Seurat (1859-1891).


AS TRELAS DO DORO: VAI TOMAR NO QUIBA, PORRA!!!! - O Doro estava virado na porra naquele dia. Despranaveado mesmo. Já viu alguém injuriado? Multiplique por mil, assim estava ele. Foi o seguinte: estava ele lambendo os beiços no maior caqueado, só saboreando umas e outras para clarear as idéias e amainar o disminlinguamento do trampo, quando um certo tipo oriundo de alhures, instou-lo com admoestações. - Não desperdice sua vida com as tentações da carne. - Cuma? -, intrigou-se arregalando os olhos para o distinto. - Deus criou o homem para fazê-lo cordeiro de sua obra! - Fodeu, Maria-preá. - Não se afunde na bebida fazendo de sua vida uma desgraça! - Ai, meu saco! -, replicou Doro, palitando o tiragosto dos dentes. - Deus mandou-me para salvá-lo desse mau caminho. - Espie aqui, seu mondrongo: quando eu tô me lascando na labuta ninguém chega pra pidi preu parar de trabaiar. Muito pelo contráro, destabocam que trabaiá indignifica o hômi. Agora intô discansando a alma e a carcaça numa bebericage de leve e no sociá que hoje num é dia de amundiçamento. Faz favô, vá sentá num balaio cheíim de rola dura voadora, vá! - A oportunidade da sua salvação é agora ou nunca! - Ih, esse cara qué me infezá. Já to veno! Qualé a tua, hem? - Primeiro, quero levá-lo para o AA. E, depois, encaminhá-lo na senda do senhor –, disse o sujeito num tom exagerado de solenidade. - AA? Qui droga é nove? - Alcoólicos Anônimos. E depois, para o coração de Cristo. - Taí, apreciei sua lorota. Vamo nessa? Diga lá e eu vô prontinho da silva. Com a anuência de Doro o cara arribou deixando as recomendações para ele se dirigir no dia seguinte para o endereço indicado. Doro como não é flor que se cheire, foi. Antes de ir, tomou logo umas bicadas boas para não passar em branco e aprumar a conversa logo antes de chegar no recinto indicado. Bem atrasado da hora do convite foi ele chegando lá só no balanço do navio e já mareando da idéia. Sentou-se e teve paciência de ouvir os depoimentos e os alarmes que o vício da bebedeira provocam no sujeito. Volta e meia apertava os olhos e a idéia, preparando revide para tanta leseira. Quando chegou sua vez de falar, ôxe, aprumou-se, pigarreou, empostou a voz, bateu na caixa dos peitos e derramou verbo tresloucado. Jurou o último gole e mandou buscar uma garrafa da que-matou-o-guarda como despedida na presença de todos. Primeiro gole ingerido, a doidice começou num relato muito troncho de deixar todo mundo azoretado só com as curvas da pabulagem. Gente, não tem quem acompanhe o seu raciocínio mesmo. Aí, meu, ninguém agüentou o tombo da baboseira e logo estavam todos topando com a dois-dedinho na comemoração. Daí, Doro balançou o coreto e a franga soltou-se coletivamente. Resultado: todo mundo trocando os olhos e as pernas no maior pileque. Dias depois, eis que diviso Doro encasquetado com um sujeito. - Que se assucede, Doro? -, perguntei prevendo o pandemônio. - Esse cara, meu, só me enchendo o saco, ora! –, respondeu-me bastante irritado. - Um despropósito! -, reclamava o outro que eu nem conhecia. - Foi a vorta do enterro -, asseverou Doro todo ingicado. E arremedou: - Fui tirá a prova dos nove para vê si todo mundo era siguro no qui dizia. Ôxe, intraru na roda e foi maió salseiro. - Mas, afinal, o que se deu? - Este sujeito foi encaminhado com as graças de Deus para o Alcoólicos Anônimos e, do nada, desencaminhou todo mundo! - Como foi isso Doro? - Ué, deixei os acólicos anômo tudo nos beóço bicados. De AA para BB. - Deus vai castigar você. - Ora, vá tomar no... Eis que nessa hora, surge a santa mãezinha do Doro e ele alivia no verbo. - Ora, arrispeiti minha mãe que hoji é o dia internacional das mulé e vá s´imbora antes que eu sorte meus cachorro todo... - Isso ficará na conta dos seus pecados, Deus há de castigar você. - Ora, vá tomar.... vá tomar... vá tomar no... no quiba, porra! Adisculpi o palavrão, minha santa mãezinha. - Ora, manda esse fresco tomar no cu mesmo, meu filho. Pronto.  © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui


PENSAMENTO DO DIAÉ o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. Pensamento do filósofo, dramaturgo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1986). Veja mais aqui.

A LINGUAGEM & O SENTIDO - [...] O sentido está sempre no viés. Ou seja, para se compreender um discurso é importante se perguntar: o que ele não está querendo dizer ao dizer isto? Ou: o que ele não está falando, quando está falando disso? [...]. Extraído da obra A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso (Pontes, 1987) da professora e pesquisadora Eni Pulcinelli Orlandi.

A VIAGEM INTERIOR – [...] Uma longa vida de reflexões é uma grande experiência. É mesmo às vezes o termo das experiências de uma família ou de uma raça, a resposta dada ao enigma de sua caminhada secular. O fruto amadurecido de seu lento crescimento, e que traz a marca de seus erros, de seus sucessos, de suas virtudes e vícios. Gostaria de aclarar o enigma da minha. Queria extrair-lhe o significado, aos olhos dos outros e aos meus. Pois que cheguei à hora em que se arrojam das esperanças que se quebram, se abraça o conjunto da rota percorrida, com o olhar lavado e o coração desimpedido [...] Trechos extraídos da obra Le Voyage intérieur (Albin Michel, 1942), do novelista, biógrafo e músico francês e Prêmio Nobel de Literatura de 1915, Romain Rolland (1866-1944). Veja mais aqui.

O CORVO E O PAVÃO - O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo ao corvo: - Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores, que maravilhosa plumagem! Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não? - Não há dúvida que você é um belo bicho -- disse o corvo. Mas, perfeito? Alto lá! - Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau agouro... Que falha você vê em mim, ó tição de penas? O corvo respondeu: - Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhes deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre diabo como eu... O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma. Tinha razão o corvo: não há beleza sem senão. Extraído da obra Fábula (Brasiliense, 1994), do escritor Monteiro Lobato (1882-1948). Veja mais aqui.

VERSOS ÍNTIMOS - Vês! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de tua última quimera. / Somente a Ingratidão - esta pantera - / Foi tua companheira inseparável! / Acostuma-te à lama que te espera! / O Homem, que, nesta terra miserável, / Mora, entre feras, sente inevitável / Necessidade de também ser fera. / Toma um fósforo. Acende teu cigarro! / O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja. / Se a alguém causa inda pena a tua chaga, / Apedreja essa mão vil que te afaga, / Escarra nessa boca que te beija! Poema do poeta, advogado e professor paraibano do movimento pré-modernista da literatura brasileira, Augusto dos Anjos (1884-1914). Veja mais aqui.


A arte do pintor francês Georges Seurat (1859-1891).




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