quinta-feira, agosto 07, 2008

CORDEL DE CAETANO, GERMAINE GREER, BLANCA VARELA, MARIA BONOMI, DEBORAH COLKER, LENA HEADEY, EDUCAÇÃO & EJA


A arte e a beleza da atriz britânica Lena Headey.

VALUNA: RIACHÃO DO GAMA & ELA É CACHOEIRINHA - Nem bem me dei conta, era novembro na cachoeira e ela, a várzea longe, tantos janeiros se passaram desde a última vez: estranhas fisionomias e nem os amigos eram mais amenos. Não mais a calmaria, vozes estranhas, outro idioma, do invasor peró. Tive que teimar para aprender. Era eu pescador de Cabanas e o meu oficio: refundar a esperança, servir ao amor, minha obrigação. No meu corpo as estórias do tempo, quanta memória e marcas que nem sei. Nenhuma hora de insones, hordas de múmias nuas, o convite ao ensaio, sabia: todos dependem uns dois outros no sopro da vida. Seguia para todo lado, Alazão, Maniçoba, Cafundó. Nem previa o avistamento de Tacaité e Cruanhas, a chegada do Milho e Chata, o transcurso de Olho d’Água, Catimbó, Queimada, Sacatinga, Flores e Verde, Caboclo e Quizanga. Apesar de festa, o tempo queimava ao vento na poeira das estradas vazias. Fui pras bandas de Pesqueira que era Monte Alegre e virou Cimbres da Capitania de Ararobá. Lá, o Poço Pesqueiro arrodeado pelos Pebas, Cana-Brava, do Boi, da Atravessada, do Guerra, do Bálsamo, e já era do Belo e Salobro, Santana, Gravatá, Ceguinha, Quebra-Roça, Baraúnas, Liberal, Papagaio. De lá Cimbres, Mimoso, Mutuca, Papagaio e os povoados Ipanema, Cajueiro, Beira Mar, Capim de Planta, Papagaio de Cima, Marimbas, Pacheco e Cacimbão. Ah, eu já estava além das serras do Mimoso e do Ororubá, onde os Xukurus faziam reduto e me contaram da extinção dos Paratiós. Aí apareceu a abelha negra zangada, a sanharó. Vôte! Era lugar para quem gostava do queijo e do leite, a feira e as vaquejadas, a Festa do Beco, a sancoquinho e a cavalgada das amazonas. Ah, aí sim. Elas. Ensinaram-me a dançar na aldeia dos abacaxizes, o jeito delas jambo maduro acudia meu gosto e ela cantando: “Vem Quinquim, temos para ti bobó, ambrazó, quingombó, jiló e excelente azeite de dendê” e eu na ambrosia dos deuses. A mãe parecia Tétis, só parecia e as águas lavavam meu corpo. Quando não, parecia Nix, só parecia e a brisa refrescava meus sonhos. Também parecia Gaia, só parecia e o chão era macio para meus passeios com outras que eram como se fossem greias, górgonas e sereias. Não eram, só pareciam. Ah, como eu gostava de tudo isso. E muito mais. Foi aí que a que se parecia Eumênide me deu a dádiva da humanidade para comer e as caçadoras donzelas me advertiram sobre amar e sofrer. Ao me falarem disso, de repente a surpresa: o cenário mudou e já estávamos no sopé do se parecia com o Monte Aréopago, onde outras delas me foram gentis e furiosas. Eita! Não sei das que esconderam a maçã dourada da imortalidade se é que esconderam mesmo, nem da dos crisântemos, leis e ordens. Cada uma delas me seduziu ao seu modo, cada uma delas, um presente: o brilho das estrelas, o pôr-do-sol, a serpente tricéfala, palavras que encantavam, a face gloriosa, o corpo alado, o rápido voo. As que pareciam moiras saíram da caverna pela fonte de água branca e me deram o destino, o sonho do sono, o remorso, a morte, a miséria e a discórdia. As que pareciam górgonas inspecionaram minha trajetória com a que se parecia Antígona e não me precipitei: seus rostos belos e corpos formosos, as asas douradas sobre os ombros. Eram guardiães do limiar que petrificavam. E me ensinaram: o sangue do lado esquerdo, ressuscita; do lado direito, mata. Eu tinha que saber disso. Outras mais vieram e me confundi quando as que se pareciam sereias me desviaram e as que se assemelhavam às greias eram, na verdade, cisnes nos lago divino e me olhavam enquanto eu as via entre as que aparentavam ninfas estígeas e marítimas, as que semelhavam harpias e as servas de Perséfone... e eu, assim do nada, era como se fosse Orfeu para cada uma delas e nelas. Eu não era Orfeu, era como se fosse delas e nelas. Falei algo e não foi tudo, nunca será. Das garras às caricias, minhas mãos deram e receberam delas, enquanto o meu povo que eu nem conhecia, sequer sabia da minha gente e já estava de volta, o regresso, o que me esperava. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.


DITOS & DESDITOS - Não creio que a realidade tenha começo e fim... Não gosto de olhar para trás, porque viraria estátua de sal. A maior virtude da boa arte é a síntese da pulsação. A arte surpreende a realidade. A arte tem que alcançar o maior número possível de pessoas. A arte pública transforma: a pessoa passa, vê aquilo e se questiona de alguma maneira. A pessoa é transformada por aquilo que vê, que ouve, que toca. Mesmo com novas linguagens para novas platéias. Sempre haverá. Mas o ponto de conclusão vai estar do outro lado da ponte. O ponto de conclusão não existe como conhecimento. É sempre indagação. É sempre busca. Pensamento da gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora Maria Bonomi. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: A arte não deve representar interesses. Onde termina o rio e começa a lama, onde termina a lama e começa o homem? Quero falar desse homem caranguejo, que sobrevive à indiferença. O rio é a vida e a vida é irrigada pelo sangue. A dança me tirou daquela quase depressão, daquele buraco bravo que eu entrei. E parece que ela juntou o esporte, essa energia física, com a arte. Procuro trabalhar força dinamicamente, compondo todo o movimento. Fluindo energia até a ponta dos dedos. Ocupando o espaço sob todos os planos e níveis. Bailarino não pode parar. A dança está aí e cada vez conquistando mais praticantes. Tudo é válido. É preciso entender de uma vez por todas que um país sem cultura é um país sem memória. Pensamento da bailarina e coreógrafa Deborah Colker. Veja mais aqui.

EDUCAÇÃO – [...] Que a educação seja o processo através do qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo da mesma. Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as consequências de sua escolha. Mas isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende. [...]. Trechos do livro Alfabetização de Adultos. Relato de uma experiência construtivista (Vozes, 1994), da professora e pesquisadora Irene Terezinha Fuck. Veja mais aqui.

A LIBERDADE E A VIDA - O medo da liberdade é forte em nós. Quer a chamemos caos ou anarquia, as palavras são ameaçadoras. Vivemos num verdadeiro caos de autoridades contraditórias, numa idade de conformismo sem comunidade, de proximidade sem comunicação. Podíamos apenas temer o caos, caso o imaginássemos desconhecido para nós. Mas de fato o conhecemos muito bem. É improvável que as técnicas de libertação, adotadas pelas mulheres espontaneamente, entrem num conflito tão feroz como o que existe entre auto-interesses em choque e dogmas conflitantes, pois elas não buscarão eliminar todos os sistemas, mas o seu próprio. Por mais diversas que elas possam ser, não precisam ser totalmente irreconciliáveis, porque não serão conquistadoras. O guia mais seguro para a correção do passo que as mulheres dão é alegria na luta. A revolução é o festival dos oprimidos. Por um longo tempo pode não haver recompensa perceptível para as mulheres a não ser seu novo sentido de propósito e integridade. Alegria não quer dizer jubilo clamoroso, mas significa o emprego propositado de energia em empreendimento escolhido. Significa orgulho e confiança. Significa comunicação e cooperação com outras baseada na delícia de sua companhia e na sua própria. Ser emancipada de desamparo e necessidade e andar livremente sobre a terra é seu direito de nascimento. Pensamento da escritora australiana Germaine Greer. Veja mais aqui.

A MULHER - Nunca me senti inferior a um homem; sempre senti uma pessoa consciente de que um ser humano nunca será inferior a ninguém. Não importa qual seja sua condição. Não, não tenho medo da velhice e da morte. Eu adoraria, como existem velhos poetas que escrevem, escrever poemas de amor, para um possível amor no futuro. Mas não posso escrever sobre isso. Quero dizer, eu posso escrever, mas eu não me sentiria expressa se o fizesse, eu já tive essas experiências. Acho que todos temos frustrações, principalmente quando se tem modelos de vida superiores. Existe, de fato, falta de comunicação. Talvez o que eu não tenha sido capaz de dizer a alguém, em algum momento da minha vida, eu possa dizer isso em poesia. As mulheres, em geral, somos muito corajosas. Temos muito o que fazer pelas crianças, pela sobrevivência. Eu sempre fui muito solitária e também me diverti muito. Eu estava sempre criando situações e personagens, acho que não me senti sozinha. Pensamento da poeta peruana Blanca Varela (1926-2009). Veja mais aqui & aqui.


O ASSASSINO DA HONRA Ou A LOUCA DO JARDIM

Caetano Cosme da Silva

Vinde musa mensageira
Do reino de Eloim
Traz a pena de Apolo
E escreve aqui por mim
O Assassino da Honra
Ou a Louca do Jardim

Esta história é um exemplo
Pra qualquer mulher casada
Que respeita seu marido
E deseja ser honrada
Que para quem não tem honra
A honra não vale nada.

Só pune a honra o honrado
Porque é conhecedor
Pois o honrado conhece
Que a honra tem valor
E quem fere a honra alheia
Fica sendo devedor.

E o desonrado fica
Na maior lamentação
E quando sofre inocente
Já sente no coração
Uma sede de vingança
Pedindo a Deus punição.

E Deus que nunca dormiu
Nem de noite nem de dia
Vê quem é merecedor
De sua devocacia
E vê também quem merece
Pagar pela covardia.

O mau não é perseguido
O justo sofre demais
Onde reina a união
Tem inveja o satanás
Portanto conto um passado
De uns cem anos atrás

Foi no velho Portugal
Na capital de Lisboa
Que Orberto Alves Lins
A mais sincera pessoa
Casou-se com Julia Alves
Alma santa justa e boa.

Orberto era um exemplo
Da mais sincera união
Amava tanto a esposa
Como Deus ama a razão
Parecia que os dois
Tinham um só coração.

Sua esposa tinha um dom
Que a natureza lhe deu
Honrada e criteriosa
Julia era o nome seu
Justa igualmente a ela
No mundo inda não nasceu.

Dessa união santa e pura
Só nasceu uma menina
E os seus pais lhe puseram
O nome de Albertina
Que veio ajudar a Julia
Cumprir a tirana sina.

Quando a mesma nasceu
Inda mais multiplicou
]aquele amor santo e puro
como Deus lhe ordenou
somente pra Julia Alves
o amor nada durou.

Porque ao fazer seis meses
Que Albertina nasceu
Um grande conquistador
Para Julia apareceu
Paulo Ferreira da Silva
Era esse o nome seu.

Era amigo de Orberto
Porem era desordeiro
Contava dezoito anos
Ainda era solteiro
Vivia de roubar honra
Confiando no dinheiro.

E passando certo dia
Naquela santa morada
De seu bom amigo Orberto
Julia estava na calçada
De cobiça ele ficou
Com a alma marcheteada.

- Dona Julia, dê-me água
e ela sem maldade
trouxe água e deu a ele
com educabilidade
sem saber que ele queria
roubar-lhe a moralidade.

E perguntou por Orberto
Disse ela – Foi receber
Umas casas na cidade
Que deixou para vender
Disse Paulo: - Eu tenho pena
De ver Orberto sofrer.

Orberto era pra ser
Um homem mais felizardo
É bastante que possui
Um anjo delicado
Que pode dar-lhe um conforto
De viver mais descansado.

Dona Julia respondeu-lhe:
- Mas Orberto não é pobre
só não é milionário
porem possui certo cobre
e tem mais essa fazenda
que a nossa pobreza encobre.

Paulo lhe disse: - É verdade
Ele tem certo dinheiro
Porem não é como eu sou
Capitalista e banqueiro
E posso fazer Orberto
Meu sucessor e herdeiro.

A senhora neste sitio
Não está bem colocada
E a senhora não pode
Viver aqui sendo honrada
E Orberto na cidade
Até alta madrugada.

Vou propor-lhe uma proposta
Mas quero ser perdoado
Se não acertar perdoe
Esse seu menor criado
Que por seu amor se acha
Quase louco apaixonado.

Dona Julia conheceu
Ser caso de adultério
Lhe respondeu: - Senhor Paulo
O homem que tem critério
Não desonra o lar alheio
Que honra contem mistério.

- Quem diz assim não engana
o senhor fique avisado
o homem que tem vergonha
não é desmoralizado.
Eu vou contar a Orberto
Pra não trazê-lo enganado.

- Dona Julia tenha calma
não tenha perturbação
pois a senhora não sabe
quanto é minha paixão
tudo isso são fraquezas
de meu pobre coração.

Nisso Paulo avistou
Numa banca pequenina
De dona Julia o retrato
E outro de Albertina
Pegou-os e botou no bolso
Com sua ação assassina.

E perguntou: - Dona Julia
Vai contar ao seu marido
Que eu a si declarei-me?
Eu já estou prevenido
Com o seu retrato eu provo
Que de si sou querido.

Se a senhora contar
A Orberto este passado
Com os seus retratos eu provo
Que fui seu apaixonado
E a senhora só conta
Por eu lhe ter desprezado.

Ao dizer essas palavras
Com Julia se abraçou
A fim de beijá-la a pulso
Mas dona Julia açoitou
A mão pela cara dele
Que até um dente quebrou.

Paulo então se retirou
Com a cara bem opada
E o dentro que quebrou
Botando sangue em golfada.
E disse pra dona Julia
- Esta desfeita é vingada.

Com meia hora depois
Em casa Paulo chegou
Fez depressa um curativo
E o rosto desinchou
E ele disse: - Vingar-me
Daquela maldita eu vou.

Deixemos Paulo o bandido
Pensando no que faria
Para se vingar de Julia
Por meio de covardia
E falaremos de Orberto
Que chegou no outro dia.

Quando Orberto chegou
Achou Julia descontente
Ele perguntou a ela:
- Que tens tu anjo inocente
que teu olhar está mostrando
que alguma coisa sente?

- Nada sofro, disse ela
apenas uma sombra escura
com vontade de jogar-me
na mais cruel desventura
da qual eu só me livrava
se baixasse à sepultura.

- Não querida, disse Orberto
entre nós não há ruína
isto é algum nervoso
que teu juízo imagina
viva sempre para mim
e nossa filha Albertina.

Com isso ela conformou-se
Porem com perturbação
Vendo a hora de cair
Na maior condenação
Porque o falso nodoa
O mais limpo coração.

Com trinta dias depois
O bandido novamente
Armou-se com os retratos
Daquela pobre inocente
E disse: - Hoje eu me vingo
Do que sofri cruelmente.

Quando ele chegou lá
Fazia apenas uma hora
Que Orberto viajava
E Paulo sem ter demora
Bateu na porta e falou
Dona Julia veio fora.

- Senhora, disse o bandido
amigo Orberto chegou?
Respondeu Julia que sim:
- porem hoje viajou
nessa conversa o bandido
abriu a porta e entrou.

Entrou com toda afoiteza
Com os retratos na mão
E disse pra dona Julia:
- Pra findar nossa questão
receba aqui seus retratos
e dê-me o seu coração.

- Bandido, eu já lhe disse
que você não é capaz
de entrar na minha casa
mas você é muito audaz
um ladrão conquistador
roubador da santa paz.

Eu só nasci pra Orberto
A quem amo e mais ninguém
E já disse que você
Pelo sentido que vem
Só entra em minha casa
Porque vergonha não tem.

Você é mais que covarde
Pela má inclinação
O homem que tem vergonha
Honra o outro cidadão
Não faz o que você
Disse Paulo: - Tem razão.

Paulo vendo que perdia
Fez um plano traiçoeiro
Pôde entrar no quarto dela
Como um lobo carniceiro
E botou uma cigarreira
Debaixo do travesseiro.

Dona Julia vendo ele
Entrar para o quarto dela
Nem sequer abriu a porta
Saiu por uma janela
Depois ele saiu como
Quem não perseguia ela.

Ela vendo ele sair
Pra sua casa voltou
Foi cuidar de Albertina
Na traição não pensou
Às 4 horas da tarde
Orberto Alves chegou.

Ela pensava em dizer
Aquele terrível maltrato
Que Paulo tinha lhe feito
Mas pensava em seu retrato
Que se achava em poder
Daquele bandido ingrato.

- Se eu contar a Orberto
vai se dar grande questão
Orberto quer se vingar
Quer o fato tem razão
O bandido se defende
E eu fico na perdição.

O meu caso está sem jeito
Só Deus pode me valer
Faz de conta que estou
Sentenciada a morrer
Só não morro se Orberto
Só der crença no que ver.

Orberto vendo a mulher
Quase sem consolação
Compreendeu ser nervoso
Ou gases no coração
Dizendo que tudo isso
Trazia perturbação.

Nessa mesma noite Orberto
Entrando no camarim
Chegou-lhe no pensamento
Uma idéia mesmo assim
De examinar seu leito
Com um desejo sem fim.

Firmado no pensamento
Ele logo examinou
Então no seu travesseiro
Sem querer ele encontrou
Uma linda cigarreira
Que achando desmaiou.

- Dona Julia venha cá
pra me dizer com franqueza
se aqui entrou alguém
que disto eu tenho certeza
é esse o motivo justo
de sua grande tristeza.

- Achei uma cigarreira
debaixo do travesseiro
quer dizer que quando eu saio
aqui me chega um herdeiro
me conte isso direitinho
que quero ser justiceiro.

Dona Julia quase tremula
A ele se apresentou
Orberto mostrou a ela
O que ali encontrou
Quando dona Julia viu
Do traidor se lembrou.

- Orberto, quero Orberto
só sendo uma tentação
satânica, onde alguém
que inveja nossa união
botou esta cigarreira
em cima do meu colchão.

Nada disso, disse Orberto:
- Você me atraiçoou
vai pagar com sua vida
o crime que praticou
nisso alguém bateu na porta
e bem alto assim falou:

- Dona Julia, olhe aqui
uma cartilha de amor
que seu amante querido
me pediu esse favor
dona Julia ouvindo isso
soltou um grito de dor.

Entregando aquela carta
Dali desapareceu
Nem sequer o portador
Orberto não conheceu
Porem quando abriu a carta
De raiva o corpo tremeu.

Na carta viu o retrato
De sua filha Albertina
E o de Julia também
Ele disse: - Oh! Assassina
Teu crime pede vingança
A Providencia Divina.

A carta dizia assim:
“Oh! Julia minha querida
eu estou arrependido
de me tornar homicida
porque te jurei deixar
Orberto no chão sem vida.

De gozar os teus carinhos
Não estou arrependido
Porque de fato eu já fui
Pela senhora vencido
E a senhora pediu-me
Que matasse seu marido.

Mas me acho sem coragem
De praticar tal horror
Pois conheço que a vida
É o ser de mais valor
Mesmo sem matar Orberto
Eu já gozei seu amor.

Estão aí os retratos
Caso não os queira mais
Divida lá seu amor
Com outro qualquer rapaz
Que possa fazer seus gostos
Desse seu gênio voraz.

A senhora já pediu
Pra eu matar seu marido
Pode ser que muito breve
Eu também seja traído
No dia que a senhora
Arranjar outro marido.

Orberto nem terminou
De ler a carta citada
Disse pra Julia assim:
- Minha honra é vingada
porque o homem sem honra
no mundo não vale nada.

- Bote a benção a sua filha
para deixar de viver
porque o que você fez
só paga quando morrer
o homem que pune a honra
está em cima do dever.

- Orberto venha mais calmo
não seja tão positivo
o próprio deus soberano
morreu sem ser vingativo
e o roubador da honra
não morreu, inda está vivo.

- Isto pode ser alguém
que tenha paixão por mim
e não podendo vencer-me
te fez esta carta assim
quer se vingar com a morte
fazendo meu triste fim.

- Orberto você não crê
que houve morte e paixão
de nosso mestre Jesus
a fonte do galardão.
Também creia como eu
Tenho limpo o coração.

- Bote a benção à sua filha
que seu tempo se venceu
mulher séria neste mundo
se nasceu mais já morreu
disse Julia: - Há mulher séria
e uma delas sou eu.

Orberto pega um punhal
Bem grande que possuía
Com dois palmos e quatro dedos
Desse que quando batia
Na matéria de alguém
Até a alma morria.

Julia pegou Albertina
Em soluço comovente
E disse: - Senhor Jesus
Ainda existe vivente
Que faça sofrer na vida
Uma infeliz inocente.

- Orberto vai me matar
porém vai se arrepender
porque o falsineroso
terá que apodrecer
pois dos castigos de deus
ninguém pode se esconder.

- Minha Albertina coitada
vai ficar sem o amor
de sua mamãe querida
por causa dum traidor
que me fez merecedora
do sofrimento e da dor.

- Só peço para que deus
abençoe minha filhinha
enquanto viver no mundo
porque a língua mesquinha
pode roubar a honra
já como roubou a minha.

- Só peço que tu Orberto
para vingar tua paixão
me cortes a orelha esquerda
uma perna e uma mão
porém me deixes com vida
até nascer a razão.

- Porque nascendo a razão
eu sendo mesmo aleijada
podes pegar teu punhal
e dar-me uma punhalada
eu morrerei satisfeita
porque morro sendo honrada.

- Qual lá honra, qual lá nada
bote Albertina no chão
ou mesmo no berço dela
que já perdi a razão
e levantou o pinhal
com toda força da mão;.

- Orberto quero esposo
pelo leite que mamou
Jesus, na Virgem Maria
Quando deus lhe enviou
Pra terra, perdoa a mim
Porque inocente estou.

Ao dizer estas palavras
Orberto o punhal soltou
porque naquele momento
Albertina ali chorou
Mais vendo o punhal no chão
A menina se calou.

E assim continuou
Que quando Orberto pegava
No punhal a criancinha
Abria boca e chorava
Ele soltava o pinhal
A criança se calava.

Assim Orberto ficou
Que já não se dominava
Era pegar no punhal
A criancinha chorava
Orberto conheceu que
Dessa forma não matava.

Resolveu mandá-la embora
Para nunca mais voltar
Então Julia garantiu
Não vir mais nesse lugar
No mesmo instante saiu
No mundo a peregrinar.

Enlouqueceu de repente
Por pensar na Albertina
Embrenhou-se na montanha
Lamentando a sua sina
Onde foi viver igual
Uma ave de rapina

Portanto deixemos Julia
Na montanha abandonada
E vamos ver Albertina
De que forma foi criada
E como chegou a ver
Sua vida angustiada.

Orberto logo mudou-se
Para o centro da cidade
E trouxe para Albertina
De sua propriedade
Uma velha caridosa
Que lhe criou sem maldade.

E não tentou mais casar
Porque de fato arranhou
Essa velha já idosa
Que muito lhe agradou
A qual criou Albertina
Até quando se formou.

Quando Albertina contou
Quatorze anos de idade
Sua mãe de criação
A velhinha de bondade
Por ordem da Providência
Herdou a eternidade.

Já foi o segundo golpe
Que Albertina sofreu
Pois a mãe que conhecia
Foi aquela que morreu
Sabia que teve outra
Porem não a conheceu.

O leitor está lembrado
Que a mãe de Albertina
Do traidor foi traída
E saiu cumprindo a sina
Como louca pelo mundo
Feita a maior peregrina.

Pasou um ano na mata
Mais cavernosa que havia
Na hora que estava sã
Se ajoelhava e pedia
Vingança do crime injusto
Que sendo justa sofria.

Seu vestido, coitadinha
Já fazia piedade
Não havia quem dissesse
Qual foi sua qualidade
De cipó, folha e embira
Já era mais da metade.

Assim passou doze anos
Pelejando com a sorte
Chorava e depois gemia
E pedia a deus a morte
Até que um dia viu-se
Com seu espírito mais forte.

Abandonou a montanha
E seguiu para a cidade
Só em dizer heresia
Avançava sua idade
Antes de chegar passou
Em sua propriedade.

Na fazenda viu Orberto
E logo reconheceu
Lhe pediu uma esmola
Ele sem ter dúvida deu
Ela disse: - deus lhe dê
O que já lhe pertenceu.

Orberto lhe perguntou:
- Que conversa é essa sua?
A louca respondeu: - Nada
Me ensine o caminho da rua
E não olhe para mim
Que me acho quase nua.

Com as palavras da louca
Orberto se conformou
E a louco com dois dias
Na cidade chegou
E dos bancos do jardim
Ela se apoderou.

Sorria sem ver de que
Chorava sem sentir dor
Chamava dizendo assim:
- Oh! Jesus meu salvador
vingança, Jesus vingança
sobre aquele traidor.

- Considera oh! Meu Jesus
quem já fui eu nessa vida
de par com o meu esposo
e minha filha querida
tudo tinha e hoje aqui
me vejo quase despida

- Meu vestido e minha sombra
se findaram eu estou nua
descalça de pé no chão
peregrinando na rua
igual uma nuvem escura
que cobre o sol e a lua.

Então naquele momento
Foi chegando perto dela
Paulo Ferreira da Silva
O que atraiçoou ela
Foi conhecido e não soube
Nem sequer que era aquela.

Perguntou o nome dela
Respondeu ela: - Uma louca
E você monstro assassino
Se tiver língua na boca
Aumente minha miséria
Que essa inda foi pouca.

Ouvindo essas palavras
Paulo logo caminhou
Para loja e um vestido
Muito decente comprou
Costurou no outro dia
E para a louca levou.

- Senhora tome um vestido
a louca respondeu: - Não
receba 5 moedas
a louca disse: - Patrão
pegue seu dinheiro e guarde
pra sua condenação.

Nada disso, disse Paulo:
- Tome minha boa louca
o vestido e as moedas
e com a voz muito rouca
a louca lhe perguntou:
- Sua consciência é pouca?

Quando a louca disse assim
Uma mendiga chegou
Trazendo um fraco vestido
E pra louca assim falou:
- Aceite esse mulambinho
então a louca aceitou.

A louca muito contente
O vestido recebeu
E depois com um palito
Ela no chão escreveu
O nome do assassino
Por quem sofria e sofreu.

Lendo aquele escrito
Retirou-se o traidor
Portanto vamos falar
Sobre o ente sofredor
Que só herdou nesta vida
O sofrimento e a dor.

Vou citar para os leitores
O que a louca cantava
Quando ela mais ou menos
Da filhinha se lembrava
E do marido também
Que na mente ainda estava.

“Minha vida é um romance
desde o meu nascimento
o amor me iludiu
e fez meu sofrimento
tudo isso são lembranças
do maldito casamento.

“Enquanto eu era solteira
não tive perseguição
porem depois de casada
me veio grande tentação
sou justa porem o mundo
fez minha condenação.

“Satisfeita com a sorte
sofro mesmo sendo honrada
da maior língua ferina
eu me vejo desonrada
porque na mulher honesta
a honra é precipitada.

Leitores deixemos a louca
E falemos de Albertina
Contando seis quinze anos
Que para cumprir sua sina
Destinou-se a conhecer
Esta louca peregrina.

Pediu a seu pai Orberto
Ele sem duvida aceitou
Ela foi até a praça
E assim que lá chegou
Vendo o estado da louca
De comovida chorou.

Abraçou-se com a louca
E pegou-a com a mão
Até que levou-a logo
Para a sua habitação
Sem conhecer sua mãe
Naquela situação.

Trocou as vestes da louca
Por outra que já foi dela
E quando ela vestiu
Deu muito certinho nela
Nisto foi chegando Orberto
Perguntou quem era aquela.

- Essa é a louca, papai
Albertina assim falou.
= Aquela que o senhor disse-me
que vivia no jardim
eu fui visitá-la e trouxe
ela hoje para mim.

- Não filhinha, disse Orberto
- Assim não dá certo não
dê roupa a ela e dinheiro
e uma boa refeição
depois mande ela voltar
para a sua habitação.

Albertina foi levar
A louca lá no jardim
Deu-lhe dinheiro e comida
E findou dizendo assim:
- Boa louca tu vais ser
apadrinhada por mim.

- Oh! Minha boa menina
que palavra de valor
foi deus que te deu a vida
um coração de amor
para te compadecer
de um ente sofredor.

Albertina despediu-se
Mui chorosa e regressou
Com dez minutos depois
Em sua casa chegou
Já um rapaz conversando
Com Orberto ela encontrou.

Esse rapaz era Paulo
O maldito traidor
O assassino da honra
A cobiça do amor
Com a presença de santo
Mas sendo um devorador.

Assim que viu Albertina
Tratou de lhe conquistar
E disse sou bocado rico
Bom de um homem gozar
Vou roubar-lhe a virgindade
Ou então lhe difamar.

Porem a moça pra ele
Não soltou um ar de riso
E Paulo de cá dizendo:
De te gozar eu preciso
E assim se retirou
Quase doido do juízo.

Com quinze dias depois
Ele foi lá novamente
Com o coração do mal
Natureza de serpente
Com vontade de manchar
A linda jovem inocente.

Nesse dia Orberto Alves
Para o sitio viajou
E Paulo chegando lá
Orberto não encontrou
Mas pelo atrevimento
Abriu a porta e entrou.

Albertina saiu fora
E ele apertou a mão
E Paulo decente achou
Da moça a educação
Da vontade com o desejo
Chegou a ocasião.

Paulo disse: - Minha santa
Me encho de alegria
Em ter a honra de entrar
Nesta sua moradia
Somente para lhe dizer
Que lhe tenho simpatia.

Albertina então lhe disse:
- Muito obrigada senhor
pela sua exaltação
sua honra e seu valor
só não fale para mim
em assunto de amor.

- Por qual razão a senhora
deseja me recusar?
Eu sendo milionário
E você a me rejeita?
A moça disse: - Riqueza
Nem fez nem faz eu amar.

- Ainda que o senhor
possua todo brasão
tenha honra muito mais
de que mesmo D. João
eu não lhe amo porque
lhe odeio de coração.

Paulo Ferreira ouvindo
Albertina falar assim
Retirou-se angustiado
Pensativo a estudar
Um meio com que pudesse
Ele dela se vingar.

Enquanto o bandido estuda
A forma de traição
Vamos ver um grande exemplo
Do autor da criação
Porque o falso só reina
Enquanto dorme a razão.

Albertina foi buscar
A louca lá no jardim
E quando ela chegou
Albertina disse assim:
- Minha louca, Paulo, ontem
veio seduzir a mim.

A louca chorando disse:
- Boa menina cuidado
Paulo é um roubador
Da honra do povo honrado
Pois eu conheço um casal
Já por ele desonrado.

- E era um casal honrado
a quem ele atraiçoou
com dois objetos alheios
que ele mesmo roubou
feriu uma mulher justa
e o marido acreditou.

- Ainda não satisfeito
com o falso traiçoeiro
foi no quarto do casal
e deu um golpe certeiro
deixando uma cigarreira
debaixo do travesseiro.

Albertina ouvindo isso
Um grande choque tomou
Porem conservou-se muda
E quando seu pai chegou
O que a louca lhe disse
Ao pai ela contou:

- Esta história tem areia
Orberto lhe disse assim:
- A história dessa louca
caiu em cima de mim
e se ela não mentiu
o caso vai ser ruim.

Não deixou mais que a louca
Voltasse para o jardim
Mas a louca disse: - Eu vou
Que lá há de ser meu fim
Se for mentira o que eu disse:
- Pode castigar a mim.

Albertina mui chorosa
Lhe abraçou soluçando
E disse: - Boa mulher
És louca mas estás mostrando
Que não és mulher ruim
Pois teu gesto está provando.

O leitor sabe que Paulo
Jutou manchar a donzela
Então neste mesmo dia
Ele com muita cauteça
Tentado pelo diabo
Pode entrar no quarto dela.

Agora o leitor vai ver
Quanto vale a virgindade
Paulo foi ferir a honra
Mas deus da eternidade
Fez ele pegar no sono
E pagar a crueldade.

Mesmo debaixo da cama
Da mochila ele ficou
E prometido por deus
O sono lhe agarrou
Porque só assim pagava
Os crimes que praticou.

Albertina à meia noite
Avistou Paulo destado
Dormindo de boca aberta
E chamou seu pai de lado
Orberto chegando disse:
- Me considero vingado.

Orberto acordou Paulo
Já debaixo do facão
E quando ele acordou-se
Conheceu a perdição
Pra não morrer acusou-se
Como assassino e ladrão

Paulo tinha um bom revolver
Mas com ele não armou-se
Forçado pelo remorso
Então ele acovardou-se
Que de fato era assassino
Da honra, então declarou-se.

Contou que entrou no quarto
Da moça para se vingar
Porque ela em outro dia
Tratou de lhe recusar
Veio roubar-lhe a virgindade
Ou então lhe difamar.

Contou também que peitou
A mulher do seu amigo
E a mulher lhe cuspiu
Ele se vendo em perigo
Roubou os retratos dela
Temendo um certo castigo.

Contou como colocou
Debaixo do travesseiro
A cigarreira cromada
Achando um golpe certeiro
E falou também na carta
Que mandou por desordeiro

E jurou por todos santos
Que dona Julia era pura
E que lamentou depois
Em ver uma criatura
Tão justa e por sua língua
Sofrer tanta desventura.

É aquela pobre louca
Que está lá no jardim
A tua mulher que foi
Martirizada por mim
Um bandido como eu
Só presta levando fim.

Ao dizer estas palavras
Pelo revolver puxou
Em cima do peito esquerdo
Em si mesmo detonou
Morreu no mesmo momento
Pelo mal que praticou.

Orberto e Albertina
Derramaram prantos tantos
Chegou a louca dizendo:
- O que é isso meus santos
essa louca é Julia Alves
que veio enxugar seus prantos.

Considere meu leitor
Que honra santa e feliz
Julia Alves como esposa
Orberto Lins inda quis
E foram viver felizes
Segundo a história diz.

A louca vendo tombar
No chão sem vida o bandido
Ficou sã igual a quem
Inda não tinha sofrido
De loucura e foi viver
Com a filha e o marido.

Albertina, Orberto e Julia
No mesmo dia levaram
Paulo numa padiola
E à policia entregaram
E como tinha razões
No mesmo dia voltaram.

Disse Albertina: - O futuro
Será o que deus quiser
Esse exemplo é um conselho
Só não toma quem não quer
Homem nenhum nesse mundo
Terá a mim por mulher.

Com papai e com mamãe
A vida tem mais prazer
Eu vou viver mais feliz
Todo mundo pode crer
A minha mãe conheci
No santo dia que vi
O assassino morrer.

CAETANO COSME DA SILVA – Caetano Cosme da Silva nasceu em Nazaré da Mata, PE, no dia 25 de novembro de 1927. Autor muito fecundo, seus temas favoritos são histórias dramáticas, algumas delas "continuações" de outras obras conhecidas (A filha da louca do jardim, O filho de João de Calais). Compôs também algumas "pelejas". É falecido. Viveu na cidade paraibana de Campina Grande. Ele é autor dos cordéis “Assassino da honra ou a louca do jardim, O (FC-115)”, . Exemplo de um homem que atirou em uma imagem de São Severino do Ramos, O (FC-165) . Farrapo humano (FC-448) . Helena a deusa de Tróia (FC-413) . Lágrimas de amor ou a vingança de um condenado (FC-533) . Moça cendendo tabaco no mercado em Catolé, Uma (FC-834) . Peleja de Ana Roxinha com Maria Roxinha (FC-611) . Pescaria em Boqueirão, a vara, o anzol, o minhocão, Uma (FC-963) Traição de Alfredo e a vingança de Justino, A (FC-753) .

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