terça-feira, janeiro 07, 2014

COLOMBE SCHNECK, DIONNE BRAND, NIETZSCHE, CARMEN DE BURGOS, NKOSI & MACEIÓ

 

SOMBRAS DO CHÃO NO CÉU DE MACEIÓ – Era 1994 e eu já sabia então dos vazamentos invisibilizadores do Vergel do Lago, Pontal, Prado, Trapiche da Barra, emporcalhando a Mundaú com a sombra dos fantasmas do sal-gema. As dores emergiam da Motonáutica desconhecendo quem mais houvesse além dos passeios suntuosos das lanchas e barcos dos endinheirados. Havia quem sonambulasse pelas ruas dos bairros ameaçados, sem que se noticiasse qualquer dano ou avaria: tudo era devidamente escondido sob a Lei e os interesses escusos compradores das instituições protetivas. Enquanto os estrépitos da festa do progresso e do desenvolvimento há décadas, os cloretos de potássio, magnésio e sódio tomavam os olhos e manchavam-no para a cegueira salinizada expandida por Mutange e Bebedouro, Bom Parto e Pinheiros, Farol e adjacências, sob minas ocultas da soda cáustica homicida com os seus trofeus de procelanas anunciando o que nunca dirá do que será o aquífero de Marituba, o abastecimento d’água e as vidas que sucumbirão ao que jamais se possa prever. Quem sabe como Maceió sobreviverá, só quem viver sob a iminência do desastre anunciado. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Todos os negros, mesmo que minimamente conscientes, os negros que alguma vez experimentaram a cruzada do poder tecnológico da Europa na vanguarda de uma missão civilizadora, têm profundos sentimentos de inferioridade e lamentam amargamente o facto de a Revolução Industrial não ter começado de forma agradável em Daomé ou em Dakar. Nada se consegue ocultando este fato. Tenho visto colonos brancos em África que juraram que nunca se sentariam à mesa com aqueles “negros fedorentos” sentando-se muito felizes com membros de tribos seminus quando um país alcançasse a independência. É o contexto de poder que muda o comportamento e transmuta a antipatia em simpatia. Afinal, se chegarmos a esse ponto, realmente não existe nem Ogum nem Jesus! Existem apenas formas mistificadas de nossa consciência. Pensamento do escritor sul-africano Lewis Nkosi (1936-2010).

 

ALGUÉM FALOU: As mulheres não podem continuar a ser uma massa inerte junto à actividade social masculina, mas sim aspirar a partilhar obrigações e direitos com os homens; Numa palavra, quer tornar-se a criatura consciente e digna, chamada a colaborar e a preparar um futuro feliz... Uma das coisas que preferencialmente deveria chamar a atenção da sociedade, pela sua grande importância e necessidade, é a cultura e a educação das mulheres, da qual depende a civilização e o progresso dos povos. Lidar com a educação das mulheres é lidar com a regeneração e o progresso da humanidade... Pensamento da jornalista, escritora e ativista espanhola Carmen de Burgos y Seguí (também conhecida pelos pseudônimos Colombine, Gabriel Luna, Perico el de los Palotes, Raquel, Honorine e Marianela).

 

DEZESSETE ANOS - [...] dez anos depois, no dia em que finalmente aprender, ouvirei, não julgarei, aprovarei, ficarei feliz em saber, ficarei tranquilo, não terei mais medo, terei o direito reclamar, ser de má fé, ouvir a dor da minha mãe, da minha avó, retrucar para elas, Raya e Macha escolheram a vida, fizeram bem, sejam como elas, esqueçam a vergonha e a culpa.[...] o dia em que finalmente vou aprender, vou ouvir, não vou julgar, vou aprovar, ficarei feliz em saber, serei tranquilizado, não terei mais medo, terei o direito de reclamar, de estar de má fé, de ouvir a dor de minha mãe, minha avó, de retorná-los, Raya e Macha os escolherem. [...] Não lamente porque você está sozinho, aproveite o café quente, o humor do filme que você vai ver, ler, e se você é capaz de escrevê-lo, escrever cartas, escrever poemas, se você pode livros, não pense sobre o que você não tem. [...] Ela me diz que ser judeu é assustador. [...] O que é judeu em mim? [...] - Estou com medo. Receio que o tempo todo isso aconteça com meus filhos, eu não sou um crente, mas todas as noites eu adormeço orando, sem piedade nada lhes acontece. Se alguma coisa acontecesse com eles, eu morreria. 65-66 (em inglês) [...] Não é o terror da maioria das mães, independentemente de sua religião, suas origens, o passado de seus antepassados? [...] A noite, antes de adormecer, se ela não estiver muito cansada, ela vem me beijar na minha cama de infância. Não é possível reivindicar mais, uma acarícia onde um beijo, amor, porque no mundo de Helen o amor está enterrado para sempre. "É o caso de lá. [...]. Trechos extraídos da obra La réparation ( J'AI LU, 2013), da escritora, jornalista e cineasta francesa Colombe Schneck.

 

NOUTRO LUGAR, NÃO AQUINoutro lugar, não aqui, uma mulher poderia trocar \ algo entre o belo e lugar nenhum, de regresso ali\ e aqui, poderia fazer progressos na sua\ agitada vida, mas eu tentei imaginar um mar que não\ sangrasse, um olhar de rapariga cheio como um verso, uma mulher\ a envelhecer e sem chorar nunca ao som de um rádio a sibilar\ o homicídio de um rapaz negro. \ Tentei que a minha garganta\gorjeasse como a de uma ave. Escutei o duro\ bisbilhotar de raça que habita esta estrada. Mesmo nisto\ tentei murmurar lama e plumas e sentar-me tranquilamente\ nesta folhagem de ossos e chuva. Mastiguei algumas\ folhas votivas aqui, o seu sabor já a desencantar\ as minhas mães. Tentei escrever isto calmamente\ mesmo quando as linhas ardem até ao fim. Acabei por aprender\ algo simples. Cada frase imaginada ou\ sonhada salta como uma pulsação com história e toma\ partido. O que eu digo em qualquer língua é dito com perfeito\ conhecimento da pele, em embriaguez e pranto,\ dito como uma mulher sem fósforos e mecha, não em\ palavras e em palavras e em palavras decoradas,\ contadas em segredo e sem ser em segredo, e escuta, não\ se extingue nem desaparece e é abundante e impiedoso e ama. Poema da escritora, documentarista e professora canadense Dionne Brand.


CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS DE NIETZSCHE -
[...] Os senhores me perguntam o que são todas as idiossincrasias dos filósofos?... Por exemplo, sua falta de sentido histórico, seu ódio contra a representação mesma do vir-a-ser, seu egipcismo. Eles acreditam que desistoricizar uma coisa, torná-la uma sub specie aeterni, construir a partir dela uma múmia, é uma forma de honrá-la. Tudo o que os filósofos tiveram nas mãos nos últimos milênios foram múmias conceituais; nada de efetivamente vital veio de suas mãos. Eles matam, eles empalham, quando adoram, esses senhores idólatras de conceitos. Eles trazem um risco de vida para todos, quando adoram. A morte, a mudança, a idade, do mesmo modo que a geração e o crescimento são para eles objeções - e até refutações. O que é não vem-a-ser; o que vem-a-ser não é... Agora, eles acreditam todos, mesmo com desespero, no Ser. No entanto, visto que não conseguem se apoderar deste, eles buscam os fundamentos pelos quais ele se lhes oculta. "É preciso que uma aparência, que um 'engano' aí se imiscua, para que não venhamos a perceber o ser: onde está aquele que nos engana?" "Nós o temos, eles gritam venturosamente, o que nos engana é a sensibilidade! Esses sentidos, que por outro lado são mesmo totalmente imorais, nos enganam quanto ao mundo verdadeiro. Moral: conseguir desembaraçar-se do engano dos sentidos, do vir-a-ser, da história, da mentira. História não é outra coisa senão crença nos sentidos, crença na mentira. Moral: dizer não a tudo o que nos faz crer nos sentidos, a todo o resto da humanidade. Tudo isto é o “povo”. Ser filósofo, ser múmia, apresentar o monótono-teísmo através de uma mímica de coveiros! - E antes de tudo para fora com o corpo, esta ideia fixa dos sentidos digna de compadecimento! Este corpo acometido por todas as falhas da lógica, refutado, até mesmo impossível, apesar de ser suficientemente impertinente para se portar como se fosse efetivo!"... [...] Todas as paixões têm um tempo em que são meramente nefastas, em que aviltam suas vítimas com o peso da estupidez; e um tempo posterior, muito posterior, em que se casam com o espírito, em que se "espiritualizam". Outrora, em virtude da estupidez na paixão, combatia-se a própria paixão: conjurava-se para a sua aniquilação. Todos os antigos monstros da moral são unânimes quanto a isso: "il faut tuer les passions". A formulação mais famosa desta sentença encontra-se no Novo Testamento, naquele Sermão da Montanha, no qual, dito de passagem, as coisas não foram consideradas de modo algum desde o alto. Aí mesmo, por exemplo, diz-se com respeito à sexualidade: "Se teu olho te escandaliza, arranca-o fora". Por sorte nenhum cristão age segundo este preceito. Aniquilar os sofrimentos e os desejos, apenas para evitar sua estupidez e as consequências desagradáveis de sua estupidez, se nos apresenta hoje como sendo mesmo apenas uma forma aguda desta última. Não passamos a admirar mais os dentistas que arrancam os nossos dentes, para que eles não doam mais... Por outro lado, é preciso confessar com alguma equidade que, sobre o solo de crescimento do Cristianismo, o conceito de "Espiritualização da Paixão" não podia ser concebido de forma alguma. Como é de fato reconhecido, a igreja primitiva lutou contra os "Inteligentes" em favor dos "Pobres de Espírito": como seria possível esperar dela uma guerra inteligente contra a paixão? - A igreja combate o sofrimento através da extirpação em todos os sentidos: sua prática, seu "tratamento" é o da castração. Ela nunca pergunta: "como se espiritualiza, se embeleza, se diviniza um desejo?" Em todos os tempos, ela pôs a ênfase da disciplina na supressão (da sensibilidade, do orgulho, do desejo de domínio, de posse e de vingança). - Mas atacar os sofrimentos na raiz é o mesmo que atacar a vida na raiz: a práxis da igreja é inimiga da vida... [...] Todo o âmbito da moral e da religião pertence a este conceito das causas imaginárias. - "Explicação" dos sentimentos universais desagradáveis. Estes sentimentos são condicionados pelos seres que são nossos inimigos (os espíritos maus são o caso mais célebre - as histéricas que foram mal compreendidas como bruxas). Eles são condicionados por ações que não são passíveis de aprovação (o sentimento do "pecado", do "caráter pecaminoso", "imputado" a um mal-estar fisiológico - sempre se encontra razões para se estar descontente consigo mesmo). Eles são condicionados como punições, como a paga por algo que não deveríamos ter feito, para algo que não deveríamos ter sido (ideia universalizada de forma impudente por Schopenhauer através de uma proposição, na qual a moral aparece como o que é, como a própria envenenadora e caluniadora da vida: "toda e qualquer grande dor, seja ela corporal, ou espiritual, expressa o que merecemos; pois ela não poderia advir-nos, se não a merecêssemos". Mundo como Vontade e Representação. Eles são condicionados enquanto consequências de ações irrefletidas que prosseguem terrivelmente (os afetos, os sentidos são estipulados como causas, como "culpáveis"; estados de necessidade fisiológicos interpretados com a ajuda de outros estados de necessidade como "merecidos"). - "Explicação" dos sentimentos universais agradáveis. Eles são condicionados pela confiança em Deus. Eles são condicionados pela consciência de boas ações (a assim chamada "boa consciência"; um estado fisiológico que por vezes parece tão similar a uma digestão feliz, que chegamos a confundi-los). Eles são condicionados pelo desenlace feliz de certos empreendimentos (falsa conclusão, de uma ingenuidade patética: o desenlace feliz de um empreendimento não cria, para um hipocondríaco ou para um Pascal, nenhum sentimento universal agradável). Estes são condicionados pela crença, pelo amor, pela esperança - as virtudes cristãs. – Em verdade, todas estas pretensas explicações são consequências de estados de prazer e de desprazer traduzidos, por assim dizer, em um falso dialeto: se está em condições de ter esperanças porque o sentimento fundamental fisiológico está de novo forte e rico; confia-se em Deus porque o sentimento de plenitude e de força entrega ao indivíduo a quietude. - A moral e a religião pertencem completamente  à psicologia do erro: em todos os casos particulares, a causa e o efeito são confundidos; ou bem a verdade é confundida com o efeito do que se crê como verdadeiro; ou bem um estado de consciência com a causalidade desse estado. [...] Qual pode ser nossa única doutrina?- Que ninguém dá ao homem suas propriedades; nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele mesmo (-  o contrassenso da representação, aqui por fim recusada, é ensinado por Kant, e talvez mesmo já por Platão, como "liberdade inteligível"). Ninguém é responsável em geral por ele existir, por ele ser constituído de tal ou tal modo, por ele se encontrar sob estas circunstâncias, nesta ambiência. A fatalidade de sua existência não pode ser separada da fatalidade de tudo o que foi e de tudo o que será. O homem não é a consequência de uma intenção própria, de uma vontade, de uma finalidade. Com ele não é feita a tentativa de alcançar um "ideal de homem" ou um "ideal de felicidade" ou um "ideal de moralidade". - É absurdo querer fazer rolar sua existência em direção a uma finalidade qualquer. Nós inventamos o conceito de "finalidade": na realidade falta a finalidade... É-se necessariamente, se é um pedaço de fatalidade, se pertence ao todo, se está no todo. Não há nada que pudesse julgar, medir, comparar, condenar nosso ser, pois isso significaria julgar, medir, comparar, condenar o todo... Mas não há nada fora do todo! Que ninguém mais seja responsável, que o modo de ser não possa ser reconduzido a uma causa prima, que o mundo não seja uma unidade nem enquanto mundo sensível, nem enquanto "espírito": só isso é a grande libertação. - Com isso a inocência do vir-a-ser é restabelecida... O conceito de "Deus" foi até aqui a maior objeção contra a existência... Nós negamos Deus, negamos a responsabilidade em Deus: somente com isso redimimos o mundo. [...] Eu apresento a partir de agora, para não perder o meu jeito afirmativo, este jeito que só tem a ver mediada e involuntariamente com a contradição e a crítica, as três tarefas em virtude das quais se precisa de educadores. Tem-se de aprender a ver, tem-se de aprender a pensar, tem-se de aprender a falar e escrever: o alvo em todas as três é uma cultura nobre. - Aprender a ver: acostumar os olhos à quietude, à paciência, a aguardar atentamente as coisas; protelar os juízos, aprender a circundar e envolver o caso singular por todos os lados. Esta é a primeira preparação para a espiritualidade: não reagir imediatamente a um estímulo, mas saber acolher os instintos que entravam e isolam. Aprender a ver, assim como eu o entendo, é quase isso que o modo de falar não-filosófico chama de a vontade forte: o essencial nisso é precisamente o fato de poder não "querer", de poder suspender a decisão. Toda ação sem espiritualidade, bem como toda vulgaridade repousa sobre a incapacidade de sustentar uma oposição a um estímulo - o "precisa-se reagir" segue-se a cada impulso. Em muitos casos, uma tal necessidade já é prova de um caráter doentio, de decadência, de um sintoma de esgotamento. – Quase tudo que a rudeza não-filosófica denomina com o nome de "vício" é meramente aquela incapacidade fisiológica de não reagir. Uma aplicação do ter-aprendido-a-ver: à medida que nos tornamos um destes que aprende, nos tornamos em geral lentos, desconfiados e resistentes. Deixa-se inicialmente advir todo tipo de coisa estranha e nova com uma quietude hostil - se retirará a mão daí. O ter todas as portas abertas, o deitar de bruços submisso diante de todo e qualquer pequeno fato, o inserir-se e o lançar-se sempre pronto para o salto no diverso, em resumo a célebre "objetividade moderna" é de mau gosto, é não-nobre par excellence. [...] Moral para Psicólogos. - Não desempenhar nenhuma psicologia barata! Nunca observar por observar! Isto dá uma falsa ótica, uma vesguice, algo forçado e desmesurante. Vivenciar enquanto um querer vivenciar não funciona. Não é permitido olhar para si mesmo em uma vivência, toda olhada torna-se aí um "mau olhado". Um psicólogo nato protege-se instintivamente de ver por ver; o mesmo vale para o pintor nato. Ele nunca trabalha "segundo a natureza" - ele abandona ao seu instinto, à sua câmera obscura o transpassamento e a expressão do "caso", da "natureza", do "vivenciado"... Ele não tem consciência senão do universal, da conclusão, do resultado: ele não conhece aquela abstração arbitrária do caso singular. - O que acontece, quando se age de outra maneira? Por exemplo, quando à moda dos novelistas parisienses se implementa a grande e a pequena psicologia barata? Espreita-se aí do mesmo modo a efetividade, se traz toda noite para casa a mão cheia de curiosidades... Mas eu diria: só se vê o que por último vem à tona - um monte de nódoas, um mosaico na melhor das hipóteses, de qualquer forma algo co-adicionado, inquieto e de cores gritantes. São os irmãos Goncourt que alcançam o que há de pior nisto: eles não alinhavam sequer três frases sem simplesmente ferir os olhos, os olhos do psicólogo. A natureza, avaliada artisticamente, não é nenhum modelo. Ela exagera, ela desfigura, ela deixa brechas. A natureza é o acaso. O estudo "segundo a natureza" parece-me um mau sinal: ele trai sujeição, fraqueza, fatalismo. Esta prostração pulverizada diante dos fatos pequenos é indigna de um artista completo. Ver o que é pertence a um outro gênero de espíritos, aos espíritos anti-artísticos, aos objetivos. É preciso saber quem se é... Para a Psicologia do Artista - Para que haja a arte, para que haja uma ação e uma visualização estéticas é incontornável uma precondição fisiológica: a embriaguez. A embriaguez precisa ter elevado primeiramente a excitabilidade de toda a máquina: senão não se chega à arte. Todos os modos mais diversamente condicionados da embriaguez ainda possuem a força para isso: antes de tudo, a embriaguez da excitação sexual, a mais antiga e originária forma da embriaguez. Da mesma forma, a embriaguez que nasce como consequência de todo grande empenho do desejo, de toda e qualquer afecção forte; a embriaguez da festa, do combate, dos atos de bravura, da vitória, de todo e qualquer movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez na destruição; a embriaguez sob certas influências meteorológicas, por exemplo a embriaguez primaveril; ou sob a influência dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade acumulada e dilatada. - O essencial na embriaguez é o sentimento de elevação da força e de plenitude. A partir deste sentimento nos entregamos às coisas, as obrigamos a nos tornar, as violentamos. – Denomina-se esse evento como uma idealização. Desprendamo-nos aqui de um preconceito: o idealizar não consiste, como geralmente se pensa, em uma subtração e uma dedução disto que é pequeno e secundário. O que é decisivo é muito mais uma monstruosa exaltarão dos traços principais, de modo que os outros traços pertinentes se dissipam. [...] Casuística de Psicólogo. -  O psicólogo é alguém que conhece o homem: para que estuda propriamente os homens? Ele quer retirar deles pequenas vantagens, ou mesmo grandes - ele é um político!... Este aí também é um conhecedor dos homens: e vós dizeis que ele não quer com isso nada para si, que ele é um grande "impessoal". Atentai mais incisivamente! Talvez ele ainda queira até mesmo uma vantagem pior: sentir-se superior aos homens, ter o direito de olhar para eles desde cima, não se misturar mais com eles. Este "impessoal" é um desprezador de homens: e aquele primeiro é da espécie mais humana, independentemente do que possa dizer a aparência. Ele se coloca no mínimo como igual, ele se insere... O compasso psicológico dos alemães parece-me estar colocado em questão por toda uma série de casos, cuja modéstia me impede de apresentar a lista. Em um caso não me faltará um grande ensejo para fundamentar minha tese: eu guardo rancor dos alemães por terem se equivocado quanto a Kant e a sua "Filosofia das Portas dos Fundos", como a chamo. - Isto não foi condizente com a tipologia da retidão intelectual. - Uma outra coisa que não consigo escutar é um famigerado e nefando "e": os alemães dizem "Goethe e Schiller". Temia que dissessem "Schiller e Goethe"... Então não se conhece este Schiller? -Mas há ainda um "e" pior; ouvi com meus próprios ouvidos (apesar de ser apenas dentre professores universitários): "Schopenhauer e Hartmann"... [...] L'art pour l'art - A luta contra a finalidade na arte é sempre a luta contra a tendência moralizante na arte, contra a sua subordinação à moral. L'art pour l'art significa: "Que o diabo carregue a moral!" - Mas até mesmo esta inimizade denuncia a força preponderante do preconceito. Se se exclui da arte a finalidade própria à pregação moral e ao melhoramento da humanidade, então ainda está longe de seguir daí que a arte é em geral sem finalidade, sem meta, sem sentido; em resumo, a arte pela arte - um verme que morde seu próprio rabo. É preferível nenhuma finalidade a uma finalidade da moral!" - assim fala a mera paixão. Um psicólogo pergunta em contrapartida: o que faz toda arte? ela não louva? ela não glorifica? ela não seleciona? não realça? Com tudo isto, ela fortalece e enfraquece certas estimativas de valor... Isto é apenas um acessório? Um acaso? Algo de que o interesse do artista não tomaria parte absolutamente? Ou então: não é o pressuposto para tanto que o artista esteja em condições de empreender tudo isto ... ? Seu instinto mais profundo tende para a arte, ou, ao invés disso, muito mais para o sentido da arte, para a vida? Para algo desejável da vida? - A arte é o maior estimulante para a vida: como se poderia entendê-la como sem finalidade, como sem meta, como l'art pour l'art? Uma pergunta ressurge: a arte faz com que se manifeste também algo feio, duro, discutível da vida - ela não parece com isto dirimir a paixão pela vida? - E de fato houve filósofos que lhe emprestaram este sentido: "apartar-se da vontade", ensinava  Schopenhauer enquanto intuito total da arte, "estar afinado com a resignação" honrava ele enquanto a grande utilidade da tragédia. - Mas isto - já dei a entender - é uma ótica de pessimista e um "mau-olhado": precisa-se apelar para os próprios artistas. O que é que o artista trágico comunica de si? Não é exatamente um estado sem temor frente ao temível e problemático, que ele indica? - Esse estado mesmo é algo desejável; quem o conhece o louva com os louvores mais elevados. Ele o comunica, ele precisa comunicá-lo, pressuposto que é um artista, um gênio da comunicação. A valentia e a liberdade do sentimento frente a um inimigo poderoso, frente a uma sublime adversidade, frente a um problema que desperta horror - esse estado triunfal é aquele que o artista seleciona, que ele glorifica. Diante da tragédia, o que há de belicoso em nossa alma festeja suas Saturnais; quem procura por sofrimento, o homem heróico, exalta com a tragédia sua existência - a ele apenas, o artista trágico oferta o cálice desta dulcíssima crueldade. [...] Por fim uma palavra sobre aquele mundo, ao qual busquei acessos, ao qual talvez tenha encontrado um novo acesso - o mundo antigo. Meu gosto, que pode bem ser o contrário de um gosto tolerante, também está longe aqui de dizer sim em bloco: ele não gosta absolutamente de dizer sim, de preferência ainda um não, na melhor das hipóteses não diz nada... Isto vale em relação a culturas como um todo, isto vale em relação a livros - vale também para lugares e paisagens. No fundo há um número muito pequeno de livros antigos, que contam em minha vida; os mais célebres não se encontram entre eles. Meu sentido para o estilo, para o epigrama enquanto estilo, despertou quase instantaneamente ao contato com Salustio. Eu não esqueço o espanto de meu honrado professor Corssen, quando precisou dar ao seu pior aluno de latim a melhor nota, - de uma tacada só estava pronto. Conciso, rigoroso, com tanta substância quanto possível por fundamento, uma malícia fria contra a "bela palavra", também contra o "belo sentimento" - nisto desvendei a mim mesmo. Se reconhecerá em mim até o meu Zaratustra uma ambição muito séria pelo estilo romano, pelo "aere perennius" no estilo. - Não de modo diverso se passaram as coisas para mim em meio ao primeiro contato com Horácio. Até hoje nunca tive em nenhum outro poeta o mesmo encanto artístico que me foi dado desde o princípio pela Ode de Horácio. Em certas línguas, não se deve sequer querer o que aqui é alcançado. Este mosaico de palavras, no qual cada palavra espraia sua força enquanto som, enquanto lugar, enquanto conceito, para a direita e para a esquerda e por sobre o todo, este minimum em abrangência e em número de signos, este maximum de energia dos signos com isto intentado. Tudo isto é romano, e, se quiserem acreditar em mim, nobre por excelência. Todo o resto da poesia torna-se inversamente algo por demais popular - um mero falatório sentimental... CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS – A obra Crepúsculo dos ídolos: ou como filosofar a marteladas, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, trata do problema de Sócrates, a razão na filosofia, como o mundo-ver5dade se tornou enfim uma fábula, os quatros grandes erros (o erro da confusão entre causa e efeito: a religião e a moral; de uma causalidade falsa; das causas imaginárias; e do livre-arbítrio: a psicologia da vontade), aqueles que querem t0rnar a humanidade melhor, o que os alemão estão na iminência de perder, passatempos inatuais, o que devo aos antigos e o martelo fala, entre outros assuntos como psicologia, religião, arte e, sobretudo, filosofia. Veja mais aqui, aqui e aqui.

REFERÊNCIA
NIETZSCHE, Friedrich. Crepúsculo dos ídolos: ou como filosofar a marteladas.



PROJETO TATARITARITATÁTrata de um projeto que envolve música, teatro, literatura e pesquisa desenvolvidas pelo autor, bem como palestras e oficinas sobre Literatura de Cordel para estudantes e público em geral.

Compreende apresentação autoral com cantoria & sarau do autor nas modalidades solo, pocket, pé de serra e banda, com poesias, causos, humor & músicas.

A palestra possui duração de 1 hora contendo uma abordagem histórica acerca das origens da Literatura de Cordel, características, os modelos de expressão e destaques para a poesia popular. É destinada a estudantes e público em geral. 

A oficina possui 3 horas de duração e é dividida em 3 partes: a história da Literatura de Cordel, os formatos poéticos e exercício de criação. É destinada a estudantes, instituições culturais e público em geral.

LITERATURA DE CORDEL
Compreende estudos e pesquisas desenvolvidas pelo autor na área de Literatura de Cordel, com divulgação de sites e blogs de autores no Guia de Poesia.
I
CONTATO:

Fones: (82) 9606.4436




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HIRONDINA JOSHUA, NNEDI OKORAFOR, ELLIOT ARONSON & MARACATU

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