quinta-feira, julho 10, 2014

JANET MOCK, LOUISE MICHEL, NINA HARTLEY & VITA SACKVILLE-WEST

Curtindo a cantata Carmina Burana (1935/36), do compositor alemão Carl Orff (1905-1982), com UC Davis Symphony Orchestra, University Chorus and Alumni Chorus e Pacific Boychoir perform at the Mondavi Central at UC Davis Series. Veja mais aqui e aqui

 


A VIRGEM VERMELHA -A geminiana de Haute-Marne, filha de serviçais do Castelo de Vroncourt, foi criada pelos avós paternos que, ao falecerem, teve que se encaminhar Chaumont, com a intenção de cursar magistério. Ao se formar, ela foi impedida de lecionar por recusar-se a jurar lealdade ao imperador. As agruras levaram-na à poesia adolescente de temperamento altruísta, fundando uma escola livre em Audelocourt. A professora republicana das crianças entoava a Marselhesa entre as lições. Por pressão das autoridades, a escola é fechada. Persiste e abre outra em Clefmont, a qual sofre as mesmas perseguições. Muda-se para Paris para ensinar às moças de Montmartre, dedicando-se à política revolucionária e à solidariedade com apoio às escolas e orfanatos laicos. Seus primeiros versos emergem sob o pseudônimo de Enjolras, e da poesia surge Victorine, fruto de uma paixão poética que a expressaria como Judith, la sombre Juive e Ária, la Romaine – pintada como excepcional e tragicamente destinada. Participou ativamente do periódico O Grito do Povo e tornou-se membro da União dos Poetas, atuando no auxílio aos desempregados, reconhecendo-se blanquista. Durante a Guerra franco-prussiana ela militou contra o encarceramento de seus parceiros, além de lutar contra a fome ao criar um refeitório comunitário para as crianças. Virou então anarquista, importante communards na linha de frente, pelas barricadas, além de enfermeira sindicalista durante a batalha da Comuna de Paris, cuidando dos feridos. Vestiu uma farda revolucionária para deflagrar a bandeira negra dos seus ideais libertários, tentando livrar a mãe da prisão. A escritora feminista não foi poupada de assistir a execução de muitos dos seus, ocasião em que escreveu o seu poema Os cravos rubros. Em seu louvor um outro poema lhe homenageou: Viro Major. Ela foi, então, capturada, julgada e deportada para a Nova Caledônia e nomeada pela imprensa estatal de la Louve rouge, la Bonne Louise – controvertidamente considerada tanto santa quanto herege. No exílio ela foi acolhida pelos kanak, criando uma revista: Petites Affiches de la Nouvelle-Calédonie. O público festeja os cantos e lendas dos nativos publicadas por ela: Légendes et chansons de gestes canaques. Voltou a lecionar para crianças e adultos locais, tomando parte da revolta dos aborígenes. O retorno foi consagrado, contudo, uma vigilância aguda com sua volta pelo envolvimento entre operários, levando à prisão um tanto de vezes pela sua militância revolucionária. Mesmo assim foi contemplada com o sucesso de La Misère. Novamente presa pela repressão estatal, foi condenada e proibida de discursar em público. Vítima de um atentado, ela se recusou a prestar queixa contra o agressor, sendo taxada de louca e se expondo por conferências e manifestações públicas, até ser acometida por uma pneumonia que a levou ao túmulo sob a celebração maçônica. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Sexo é minha prática. É onde eu sempre me esforço para dar o melhor de mim. Tento ser a mais honesta possível, a mais presente possível, a mais centrada possível, a mais gentil possível, a mais generosa possível, sem ser capacho.Tornei-me uma pessoa cinestésica porque sempre intelectualizo demais. E sentimentos, para mim, são um conceito. Sentimentos? Ah sim, já ouvi falar disso. Acho que a maioria das pessoas está programada para ser monogâmica por curtos períodos de cada vez. Com isso quero dizer que, quando estão apaixonados, realmente não querem nem precisam de mais ninguém. Para eles, a monogamia não é um problema. Vinte por cento das pessoas são do tipo poliamoroso ou swinger. Eles nunca serão monogâmicos e não querem ser. Os restantes 60% da população estão presos algures num espectro entre a monogamia feliz e a monogamia não feliz. Alguns porque esse foi o voto que eles fizeram e basicamente concordam com isso, e não querem ser mentirosos ou trapaceiros. Alguns ficam ativamente zangados com isso e provocam brigas. Alguns ficam insatisfeitos com isso e, embora não trapaceiem, afastam-se emocionalmente dos parceiros, dando a si mesmos o pior dos dois mundos. Alguns estão traindo ativamente, mas não abandonam o casamento. Algumas pessoas ficariam felizes em casa se pudessem ficar um pouco “estranhas” algumas vezes por ano e não deixar que isso fosse um grande problema. Eles não querem perder tudo o que construíram com seus companheiros, mas apenas querem provar algo diferente. Tenho compaixão instantânea pelos homens como seres humanos iguais. Igualmente derrotados pelo patriarcado e igualmente perdidos e errantes. Pelo menos as mulheres podem se abraçar. Pensamento da atriz, cineasta, escritora, feminista e educadora estadunidense Nina Hartley, pseudônimo de Marie Louise Hartman.

 

ALGUÉM FALOU: Não há nada mais amável na vida do que a união de duas pessoas cujo amor por um ao outro cresceu durante os anos, desde a pequena bolota de paixão, em uma grande árvore enraizada... Pensamento da escritora britânica Vita Sackville-West (1892-1962). Veja mais aqui.

 

REDEFININDO A REALIDADE - [...] Acredito que contar as nossas histórias, primeiro para nós mesmos e depois uns para os outros e para o mundo, é um ato revolucionário. É um ato que pode ser enfrentado com hostilidade, exclusão e violência. Também pode levar ao amor, à compreensão, à transcendência e à comunidade. Espero que ser verdadeiro com você ajude a capacitá-lo a assumir quem você é e a encorajá-lo a se compartilhar com as pessoas ao seu redor. [...] Já ouvi pais dizerem que tudo o que querem é “o melhor” para os seus filhos, mas o melhor é subjetivo e ancorado na forma como conhecem e aprendem o mundo. [...] Ser excepcional não é revolucionário, é solitário. Isso separa você de sua comunidade. Quem é você, realmente, sem comunidade? Tenho sido constantemente considerada um símbolo, como o tipo “certo” de mulher trans (educada, saudável, atraente, articulada, heteronormativa). Promove a ilusão de que, porque eu “consegui”, esse nível de sucesso é facilmente acessível a todas as jovens mulheres trans. Sejamos claros: não é. [...] Aquelas partes de você que você deseja desesperadamente esconder e destruir ganharão poder sobre você. A melhor coisa a fazer é enfrentá-los e possuí-los, porque eles serão para sempre parte de você. [...] Minha avó e minhas duas tias eram uma exibição de resiliência, desenvoltura e feminilidade negra. Raramente falavam sobre a injustiça do mundo com as palavras que uso agora com os meus amigos da justiça social, palavras como “interseccionalidade” e “igualdade”, “opressão” e “discriminação”. Eles não discutiam essas coisas porque estavam muito ocupados vivendo, navegando e sobrevivendo. [...] Autodefinição e autodeterminação têm a ver com as muitas e variadas decisões que tomamos para compor e caminhar em direção a nós mesmos, com a audácia e a força para proclamar, criar e evoluir para quem sabemos que somos. Não há problema se sua definição pessoal estiver em constante estado de fluxo enquanto você navega pelo mundo. [...] Não existe fórmula quando se trata de gênero e sexualidade. No entanto, muitas vezes são apenas as pessoas cuja identidade de género e/ou orientação sexual nega os padrões heteronormativos e cisnormativos da sociedade que são alvo de estigma, discriminação e violência. Desejo que, em vez de investir nestas hierarquias do que está certo e de quem está errado, do que é autêntico e de quem não é, e de classificar as pessoas de acordo com estes padrões rígidos que ignoram a diversidade nos nossos géneros e sexualidades, demos às pessoas liberdade e recursos para definir, determinar, e declare quem eles são. [...] Bondade e compaixão são irmãs, mas não gêmeas. Um você pode comprar, o outro não tem preço. [...] O equívoco de equiparar facilidade de vida com “passagem” deve ser desmantelado em nossa cultura. O trabalho começa com cada um de nós reconhecendo que as pessoas cis não são mais valiosas ou legítimas e que as pessoas trans que se misturam como cis não são mais valiosas ou legítimas. Devemos reconhecer, discutir e desmantelar esta hierarquia que policia os corpos e valoriza alguns em detrimento de outros. Devemos reconhecer que todos temos diferentes experiências de opressão e privilégio, e reconheço que a minha capacidade de me misturar como cis é um privilégio condicional que não nega o facto de experimentar o mundo como uma mulher trans (com os meus próprios medos, inseguranças e questões de imagem corporal), não importa o quão atraente as pessoas possam pensar que eu sou. [...] Esta ideia generalizada de que as mulheres trans merecem violência precisa ser abolida. É uma prática socialmente sancionada de culpar a vítima. Devemos começar a culpar a nossa cultura, que estigmatiza, rebaixa e despoja as mulheres trans da sua humanidade. [...] As palavras têm o poder de encorajar e inspirar, mas também de rebaixar e desumanizar. Eu sei agora que os epítetos têm como objetivo nos envergonhar para que não sejamos nós mesmos, para nos encorajar a mentir e a ficar em silêncio sobre nossas verdades. [...]. Trechos extraídos da obra Redefining Realness: My Path to Womanhood, Identity, Love & So Much More (Atria, 2014), da escritora, jornalista e ativista estadunidense Janet Mock. Veja mais aqui.

 

LES ŒILLETS ROUGESQuando ao negro cemitério eu for, \ Irmão, coloque sobre sua irmã, \ Como uma última esperança,\ Alguns 'cravos' rubros em flor.\ Do Império nos últimos dias\ Quando as pessoas acordavam,\ Seus sorrisos eram rubros cravos\ Nos dizendo que tudo renasceria.\ Hoje, florescerão nas sombras\ de negras e tristes prisões.\ Vão e desabrochem junto ao preso sombrio\ E lhe diga o quanto sinceramente o amamos.\ Digam que, pelo tempo que é rápido,\ Tudo pertence ao que está por vir\ Que o dominador vil e pálido\ Também pode morrer como o dominado. Poema Os cravos rubros, uma declaração de amor e carta de despedida da escritora, professora, enfermeira e blanquista francesa Louise Michel (1830-1905), apelidada de Enjolras e afamada como A Virgem Vermelha, anarquista da Comuna de Paris. Foi homenageada por Victor Hugo com poemas e personagens em seus livros, o qual, presume-se seja o pai de sua filha Victorine. Para ela os tributos do longa-metragem de 2009 do cineasta Sólveig Anspach, a Cantate da cantora Michèle Benard, a epopeia acústica Daoumi de Clément Riot, também a homenagem dos grupos musicais Louise Attaque e Les Louise Mitchels, afora tema do terceiro filme dos "grolandeses" Bento Delépine e Gustave Kervern. Veja mais aqui.

 

OUTRAS DIC’ARTES MAIS

 

Imagem: Femme nue de dos dans um intérieur, do pintor cofundador do Impressionismo francês, Jacob Abraham Camille Pissarro (1830-1903). Veja mais aqui e aqui.


MARCEL PROUST - O escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922) desde a infância que possuía uma saúde extremamente frágil e abalada por constantes crises de asma forçando-o a uma vida cercada de cuidados, voltada para a ociosidade, leituras e atividades de escritor. A sua grande obra Em busca do tempo perdido é composta de sete partes e foi publicada entre 1913/1927, totalmente narrada em primeira pessoa e apresentado a história de uma época e de uma consciência introspectiva de observador do mundo em que vivia. A obra possui um estilo admirável recuperando reminiscência que recompõe fatos e rememorando sensações e sentimentos. O primeiro volume da coleção é No caminho de Swan que é dedicado à narração da infância e adolescência do herói. Nessa obra destacamos: “[...] Há muito de acaso em tudo isso, e um segundo acaso, o de nossa morte, não nos permite muitas vezes esperar por muito tempo os favores do primeiro. Acho muito razoável a crença céltica de que as almas daqueles a quem perdemos se acham cativas nalgum ser inferior, num animal, um vegetal, uma coisa inanimada, efetivamente perdidas para nós até o dia, que para muitos nunca chega, em que nos sucede passar por perto de uma árvore, entrar na posse do objeto que lhe serve de prisão. Então elas palpitam, nos chamam, e logo que as reconhecemos, está quebrado o encanto. Libertadas de nós, venceram a morte e volta a viver conosco”. É dele também essa expressão “[...] Deixemos a mulher bonita para homens sem imaginação [...] porque é um desperdício uma mulher bonita para um homem só”. Veja mais aqui, aquiaqui


MESTRE VITALINO – Quando fui estudar Direito em Caruaru nos anos 1980, tive a oportunidade de ter contato direto com a obra de Mestre Vitalino (1909-1963, pseudônimo de Vitalino Pereira dos Santos). Esse artesão e ceramista da arte figurativa pernambucana, retratava em seus bonecos de barro a cultura e o folclore do Nordeste, ganhando reconhecimento nacional e internacional. Tive, inclusive, oportunidade de assistir ao belíssimo poético e musical O auto das sete luas de barro, do dramaturgo e encenador Vital Santos, pelo então Grupo Folguedo de Arte Popular, atualmente Grupo Freira de Teatro Popular, narrando a trajetória do mestre do nascimento à morte. Imortalizado por sua arte, se hoje fosse vivo, o Mestre Vitalino comemoraria 105 anos de idade. Salve, Vitalino!!! Veja mais aqui.


RACHEL LEVKOVITS – Conheci a escritora, compositora, artista plástica e empresária francesa radicada no Rio de Janeiro, Rachel Levkovits por meio do Clube Caiuby de Compositores. Ela edita o blog que leva o seu nome, reunindo seus poemas e canções, entre os quais destacamos Sou, sim. E daí?: “Um dia, de todos, fico cheia / No outro, minha dor minguante / me transforma em nova / e, então, me sinto crescente. / Aí me dizem: É, ela é mesmo de lua!”. Hoje é aniversário e daqui nossos parabéns com uma modesta homenagem pra ela aqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis Nefelibata
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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ALICIA PULEO, CRISTINA GÁLVEZ MARTOS, TATYANA TOLSTAYA & BARRO DE DONA NICE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Britten Piano Concerto (1990), MacGregor on Broadway (1991), Outside in Pianist (1998), D...