terça-feira, fevereiro 19, 2008

TAGORE, AUTRAN DOURADO, PATATIVA DO ASSARÉ, ROUSSEAU, HOLÍSTICA & EDUCAÇÃO, LIDIA WYLANGOWSKA, GÊNEROS TEXTUAIS & AS TRELAS DO DORO

 
A arte da pintora polaca Lidia Wylangowska.

AS TRELAS DO DORO: O BACHAREL DAS CHAPULETADAS - Doro é mesmo o cara. Pau-pra-toda-obra. E tem mais apelido que as partes pudendas. Este é o alter ego favorito dentre os heterônimos praticados pelo artista plástico, ator e biruta Rolandry. Sério mesmo, o sujeito é hors concours em presepadas. Por ser o mais ousado, ele é o sabichão da trupe, vez que conseguiu - não sei como, nem me pergunte! -, ser agraciado com o título de uma licenciatura curta em Estudos Sociais, captado duma faculdadezinha dessas de beira de estrada. O diploma ninguém nunca viu – quem vê morre! -, mas muita gente bate o pé que ele freqüentou uma dessas escolas de pé-de-escada. O que sei de mesmo, é que ele é atravessado que nem cu-de-calango, cheio de nó-pelas-costas e que lidera o trio de sebosos, formado por ele, Robimagaive e Zé Corninho. Um desmantelo, vez que juntando os três não dá um cocô de loro que preste. Numa ficha corrida, eis o Doro: apreciador duma conversa mole regada a uma boa carraspana. Um lambe litro de largar loas a fole, de sair trocando as pernas e confundindo verdade com mentira. Também é achegado a uma mulher perdida. Nisso, diz ele, ser perito e dos invejáveis, pois vive de fuçar as meninas para sufragar na roseta e na rodela excretora dela. Isso para acalmar seu fascínio antropófago. Profissionalmente Doro é amansador de circunstâncias periclitantes, enrolador de primeira, deixando tudo no desconforme com sua amolação cheia de nove horas. Em suma, o cara é o maior desacerto. Pronto! O rafamé carrega no cabedal do seu metiê um conjugado de habilitações, as quais posso destacar a de fazedor-exímio-de-rapadura, gastrônomo-fajuto, claro, um gastrólatra que se mete a inventar umas receitas da culinária exótica, a exemplo dos famigerados pratos bife-do-ôião, filé-de-osso, feijoada-da-porra, buchada-de-extrovenga, chambaril-do-coice, rabada-de-fuleira, dobradinha-peniqueira, sarapatel-com-chuchu-de-Lampião, baião-de-dois-prá-três-quedas e outros quitutes do seu cardápio aloprado - não bastando ser o criador do mingau de cachorro, a maior de todas as soluções para o problema da impotência masculina e de outras enfermidades crônicas e incuráveis. Diz-se curador ineivado, também, título adquirido quando fora piloto-de-recados na farmácia de seu Maurício Tataritaritatá, onde aprendeu a manipular umas químicas doidas, findando por inventar cachetes e outros unguentos expostos num mostruário da panacéia para todos os acometimentos humanos e extra-terrestres - mais aprofundado amiudamente com noturnas leituras regulares ao livro "Fome, criança e vida" do eminente e saudoso professor Nelson Chaves, aliás, único livro que lera por inteiro a vida inteira - e de inúmeras incursões nas mais variadas religiões, resultando num sincretismo particular onde reunia todo seu pantim e munganga escalafobéticas. Nega ser embromador-de-conversa, mas pô, meu, nesse é dos bons, num sei como ele consegue sair de um assunto pro outro, dando cada curva na idéia da gente ficar tonto nos corrupios do inexplicável, feito motorista ruim que num sabe qual o caminho da casa-de-caralho-adentro! Conselho: quando você tiver com gente ruim ou chato-de-galocha por perto, chame o faroso que ele larga leseira e aluga o juízo do cara, do tinhoso sair doido de pedra. Santo remédio contra os quizilentos!. Possui a empáfia de se autorotular artista-plástico de pintar o sete, o plástico, o ferro, o escambau - até ele mesmo! -, se dizendo ainda ator (ah! profissional! O maior caqueado para engalobar qualquer um, diplomado na maior faculdade do mundo: a vida!), dentre outras qualificações que não me atrevo a rebuscar nas explicações. Por isso, vamos deixar no que está senão o pirão engrossa. Pronto. Vamos lá, para a fatalidade. Um certo dia, Doro assobiava e coçava, quando teve o estalo: pegou uma ferraria velha, areia, barro e cuspe, arregaçou as mangas e começou a fabricar não-sei-quê que terminou sendo umas lajotas. Bem, saber eu sabia que ele queria ficar rico da noite pro dia, só que nunca acreditei que algum vivente enricasse trabalhando duro, principalmente aqui no Brasil. Vamos ver. Espia só a merda que vai dar. Fiquei intrigado com o afinco na faina e ele, escondido, no maior teitei. Ao cabo de dias, havia uma fileira de laje, de quase num ter mais fim. Ele lá, nem comia, nem dormia, direto feito cantiga de grilo. Semanas, meses. Eu cá comigo, só atocaiando no que ia dar aquilo. Quase um ano disso foi que percebi o cavernoso carregando na cacunda os tais tijolos num sei para que banda da peste que era. Sei que chegou o dia, não havia nenhuma laje no local. Ué, pronde que foi tudo? Segui suas pegadas e fui parar num morro íngreme onde ele estava atrepado, cavando, medindo, ajeitando. Morro baixo: uns trezentos metros de altura. Que droga resultará nove? Bestificado, fui acompanhando dia a dia seu repuxo. E o apaideguado lá. Perdi a paciência e deixei o biscateiro de lado. Quando menos esperava ele chegou, acho que mais de ano depois que o cara resolvera dar sinal de vida. Convidou-me para uma cachaçada numa comemoração surpresa, só que eu que tinha que comprar a bebida, o tira-gosto e tudo.
- Vou ter que carregar os convidados também? - Não -, disse-me ele - os convidado já tão cum a boca aberta esperano o foguetóro. Bem, sem encontrar outra alternativa, providenciei a intimação e fui ao encontro dos desinfelizes. Estavam todos lá, ao pé da ribanceira, de queixo caído admirando a casa que ele construiu pendurada na beira do penhasco. Ora, ele havia virado engenheiro civil da noite pro dia - só que levou pau em cálculos! -, negócio de doido, mesmo. Ele construíra sozinho, desafiando a lei da gravidade e arrepiando o cabelo de todo mundo com aquela doidice. Eu tinha lá coragem de subir o morro e entrar naquela casa, nunca! Nem que construísse um tobogã no declive até embaixo. Mas a raça toda queria era motivo para encher a cara com as lapadas da aguardente. E, nem bem começaram, já haviam esvaziado uns quinze cascos da tostante. Foi, a partir daí, que o enterro voltou. Pois bem, Doro achou de inaugurar da seguinte forma: pegou uns frascos cheios da raiz-de-pau e saiu derramando no chão até lá em cima da casa. Era a hora da satisfação pela moedeira dura que lhe fatigara por anos, pelejando para arrumar uma local onde tivesse guarida e pudesse ainda cair vivo ou morto no final do dia. Em riba, dos fundos da casa, ele fez um aceno para os paspalhos de baixo. Até eu cumprimentei, avalizando sua conquista. Daí a pouco ele desce, chega perto da gente e pede fósforos. Arrepara, só. Todo pavoneado riscou fogo na trilha e só se viu o fogaréu subindo. Gente: foi uma correria dos diabos! Nego correu mais de dez quilômetros de distância só para ver o espetáculo na lonjura mode não se arrepender depois. Foi um pipocado maior que girândola de bilhões de tiro de bombas atômicas e mísseis fudedores de num restar, no fim do espalhafato, nem o morro, quanto mais casa. Depois do rebuceteio todo, chega Doro com a cara mais lisa: - É, abusei na dosagem! - Ô cara, prá quê a casa? - Eu ia morar dentro. - Ia! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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PENSAMENTO DO DIA - Procure a vida, lá onde ela reina. Não traga as árvores para a classe. Leve a classe para baixo das árvores... Frustra-se a criança de espetáculo do mundo para oferecer-lhe em vez disso um amontoado de informações. Pensamento do poeta e músico indiano, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore (1861-1941). Veja mais aqui.

A NATUREZA HUMANA – [...] Os primeiros movimentos da natureza são sempre honestos e não há perversidade original no coração humano. [...] A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. A infância tem certos modos de ver, de pensar e de sentir inteiramente especiais: nada é mais tolo do que querer substituí-los pelos nossos. [...]. Trecho extraído da obra Emílio ou da educação (Difel, 1973), do filósofo e precursor do Romantismo francês, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), tratando sobre a infância e a dolescência, a mulher ideal, a esposa e a vida domestica, a formação política, entre outros assuntos. O livro foi proibido e queimado publicamente por conta da parte dedicada à Profissão de fé do vigário Savoiano, além de ter inspirado o sistema educativo durante a Revolução Francesa. Veja mais aqui, aqui e aqui.

ROSALINA - Ali naquela casa de muitas janelas e bandeiras coloridas vivia Rosalina. Casa de gente de casta, segundo eles antigamente. Ainda conserva a imponência e o porte senhorial, o ar solarengo que o tempo de todo não comeu. As cores das janelas e da porta estão lavadas de velhas, o reboco caído em alguns trechos como grandes placas de ferida, mostra mesmo as pedras e os tijolos e as taipas de sua carne e ossos, feitos para durar toda a vida; vidros quebrados nas vidraças, resultado do ataque da meninada nos dias de reinação, quando vinham provocar Rosalina (não de propósito e ruindade, mas sem-que-fazer de menino), escondida detrás das cortinas e reposteiros; nos peitoris das sacadas de ferro rendilhado, formando flores estilizadas, setas, volutas, esses e gregas, faltam muitas das pinhas de cristal facetado cor-de-vinho que arrematavam nas cantoneiras a leveza daqueles balcões. Extraído da obra Ópera dos mortos (Civilização Brasileira, 1975), do escritor, advogado e jornalista Autran Dourado (1926-2012). Veja mais aqui.

O POETA DA ROÇA – Sou fio das mata, cantô da mão grossa, / Trabáio na roça, de inverno e de estio. / A minha chupana é tapada de barro, / Só fumo cigarro de páia de mío. / Sou poeta das brenha, não faço o papé / De argum menestré, ou errante cantô / Que veve vagando, com sua viola, / Cantando, pachola, à percura de amô. / Não tenho sabença, pois nunca estudei, / Apenas eu sei o meu nome assiná. / Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, / E o fio do pobre não pode estudá. / Meu verso rastêro, singelo e sem graça, / Não entra na praça, no rico salão, / Meu verso só entra no campo e na roça / Nas pobre paioça, da serra ao sertão. / Só canto o buliço da vida apertada, / Da lida pesada, das roça e dos eito. / E às vez, recordando a feliz mocidade, / Canto uma sodade que mora em meu peito. /Eu canto o cabôco com suas caçada, / Nas noite assombrada que tudo apavora, / Por dentro da mata, com tanta corage / Topando as visage chamada caipora. / Eu canto o vaquêro vestido de côro, / Brigando com o tôro no mato fechado, / Que pega na ponta do brabo novio, / Ganhando lugio do dono do gado. / Eu canto o mendigo de sujo farrapo, / Coberto de trapo e mochila na mão, / Que chora pedindo o socorro dos home, / E tomba de fome, sem casa e sem pão. / E assim, sem cobiça dos cofre luzente, / Eu vivo contente e feliz com a sorte, / Morando no campo, sem vê a cidade, / Cantando as verdade das coisa do Norte. Poema extraído da obra Cante lá que eu canto cá (Vozes, 1984), do poeta popular, compositor, cantor e improvisador Antônio Gonçalves da Silva, mais famoso como Patativa do Assaré (1909-2002). Veja mais aqui, aqui e aqui.

GÊNEROS TEXTUAIS, TIPIFICAÇÃO & INTERAÇÃO – O livro Gêneros textuais, tipificação e interação (Cortez, 2005), de Charles Bazerman, organizado por Angela Paiva e Judith Chambliss Hoffnagel, trata a respeito dos atos da fala, gêneros textuais e sistemas de atividades, formas sociais como habitats para ação, enunciados singulares, cartas e base social de gêneros diferenciados, gênero e identidade, cidadania na Era da Internet e na Era do Capitalismo Global, entre outros assuntos.

A CANÇÃO DA INTEIREZA – A obra A canção da inteireza: uma visão holística da educação (Summus, 1995), do professor e pesquisador Clodoaldo Meneguello Cardoso, trata sobre o paradigma teocêntrico & o reino no outro mundo, o paradigma antropocêntrico & o império do homem, o paradigma ecocêntrico & o homem no fio da teia da vida, as mudanças paradigmáticas, a visão holística da educação, os fundamentos filosóficos, teoria da aprendizagem, a prática de ensino, a avaliação crítica, entre outros assuntos. Veja mais aqui.

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